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Todos os anos, a escolha do filme que representará o Brasil no Oscar vai muito além de uma seleção técnica, ela carrega em si um retrato do país, de sua estética, suas feridas, suas vozes e seus sonhos. Para a edição de 2026, seis longas-metragens chegaram à reta final da disputa. E se há algo que une essas obras tão distintas é o desejo urgente de dizer algo ao mundo.

Da distopia amazônica ao desejo reprimido nas ruas de São Paulo, do luto na periferia carioca ao retrato da ditadura militar em Recife, esses filmes mostram um Brasil que insiste em pensar, sentir e resistir. A seguir, conheça os seis finalistas e o que cada um traz de potência e poesia.

1. O Agente Secreto (dir. Kleber Mendonça Filho)

Favorito absoluto da temporada, o novo filme do diretor de Bacurau mergulha no Brasil da ditadura com um thriller tenso, denso e sofisticado. Com Wagner Moura no papel de um técnico em tecnologia que volta a Recife e se vê envolvido em um jogo político sinistro, O Agente Secreto venceu Cannes em duas categorias e traz uma combinação rara de força narrativa e prestígio internacional. É, sem dúvida, o título mais cotado para cruzar o tapete vermelho da Academia.

2. O Último Azul (dir. Gabriel Mascaro)

Um Brasil distópico onde os idosos são deportados para colônias distantes. Nesse cenário, Tereza, de 77 anos, decide fazer sua última travessia pelos rios da Amazônia. Com fotografia deslumbrante e um clima poético e melancólico, o filme foi premiado com o Urso de Prata em Berlim. Um grito silencioso sobre envelhecimento, deslocamento e resistência num país que envelhece à margem.

3. Manas (dir. Marianna Brennand)

Ambientado na Ilha do Marajó, o longa acompanha Marcielle, uma menina de 13 anos, em seu processo de ruptura com os abusos familiares e sociais que a cercam. Produzido com apoio internacional, inclusive do ator Sean Penn, o filme é cru, simbólico e necessário. Um retrato doloroso da violência invisível que tantas meninas brasileiras enfrentam — e a força que surge quando elas dizem “basta”. ( E ainda tem nossa maravilhosa atriz paraibana Ingrid Trigueiro )

4. Baby (dir. Marcelo Caetano)

Com uma narrativa pulsante e sensual, Baby nos apresenta Wellington, um jovem ex-interno da Fundação Casa que busca pertencimento e afeto nas ruas de São Paulo. Sua relação com Ronaldo, um homem mais velho, é cheia de nuances, vulnerabilidades e paixão. O filme toca em questões de masculinidade, desejo e sobrevivência com rara delicadeza. Uma joia urbana com alma punk.

5. Kasa Branca (dir. Luciano Vidigal)

Dé vive na Chatuba, zona norte do Rio, e precisa cuidar da avó Almerinda, que enfrenta os últimos dias de vida com Alzheimer. Em meio a um cotidiano de limitações, o filme encontra beleza na despedida e potência no afeto. Vidigal entrega um retrato humano, terno e verdadeiro da periferia carioca onde o amor também resiste.

6. Oeste Outra Vez (dir. Érico Rassi)

No sertão goiano, dois homens abandonados pelas mulheres que amam se enfrentam num duelo que mistura raiva, machismo e solidão. O filme opera quase como um western existencial, revelando fragilidades escondidas sob cascas duras. Uma parábola sobre a masculinidade em frágil, num país onde o silêncio dos homens também grita.

A escolha do filme que representará o Brasil no Oscar não é apenas estratégica, ela é simbólica. Cada um desses finalistas carrega um olhar, um gesto, uma denúncia ou uma esperança. Seja a potência política de O Agente Secreto, a poesia amazônica de O Último Azul, ou a doçura brutal de Manas, todos eles dizem, à sua maneira: o Brasil está vivo, e sua arte também.

Mais do que ganhar uma estatueta, essa disputa é uma chance de ser ouvido. E, num mundo cada vez mais barulhento, talvez seja o momento de mostrar o que temos a dizer com coragem, beleza e cinema.