Gostaria de chamar a atenção para os hábitos e vícios da nossa alimentação, de forma geral, muito distante da ideal. O consumo de alimentos cultivados com agrotóxicos e de produtos industrializados tem comprometido nossa saúde e o equilíbrio ambiental. Quando ainda não havia descoberto o fogo, tão pouco inventado o ferro, o homem era “coletor”, e se alimentava apenas de frutas, raízes e sementes, vivendo em harmonia com a natureza, dela tirando seu sustento. Sendo produto daquele meio, ali ele dispunha de todas as fontes de energias que lhe conferiam um bom sistema imunológico e um organismo bem adaptado à sua realidade.
Com a invenção de armas e instrumentos de trabalho, o homem pré-histórico passou a caçar e a cultivar o solo, começando a alterar sua alimentação. Surgiu também a agricultura. O aprimoramento das técnicas agrícolas permitiu a acumulação e a comercialização do excedente; veio o dinheiro, a exploração da mão de obra e, junto, houve uma revolução nos hábitos alimentares que continua até hoje. Com o advento da Revolução Industrial e tendo como justificativa a praticidade – tão perseguida pelo homem moderno – os produtos industrializados foram se incorporando à cultura dos povos e a alimentação processada tornou-se cada vez mais presente na dieta humana. Como resultado, o organismo humano começou a sofrer os efeitos que a alimentação artificial passou a causar.
A indústria alimentícia e a mídia há tempos vêm vendendo a ideia da alimentação processada e sintética, sustentando seus argumentos na vida prática, onde tempo é dinheiro e as pessoas estão sempre com pressa. Esse comportamento equivocado da sociedade contemporânea tem levado as pessoas ao consumo excessivo de substâncias químicas nocivas à saúde, presentes nas massas, no açúcar “branco” refinado, nos refrigerantes e em todo tipo de enlatados. Itens estes fabricados com a adição de conservantes, estabilizantes e outras substâncias, a exemplo do enxofre, utilizado para que se dê ao açúcar e às massas a “boa” aparência branca, comercialmente mais aceita. Lembremos de que os cereais de forma geral, em sendo natural, normalmente têm a cor da terra, do solo; nunca são brancos. Veja-se, por exemplo, a cor da rapadura, do açúcar mascavo, do gérmen e da farinha de trigo integrais, etc. Essa mesma indústria também se preocupou em manipular os alimentos de forma a criar sabores artificiais, cuidadosamente preparados para agradar e viciar o paladar humano, assegurando a dependência química.
O agronegócio, por sua vez, tem o seu ganho de escala assentado em práticas socialmente excludentes, como a monocultura – apenas viável com a aplicação de fertilizantes químicos e de pesticidas – e na exploração insustentável dos recursos naturais. O esgotamento do solo através destas práticas e a contaminação do lençol freático por agrotóxicos são as causas imediatas, consequência desse modelo. Não seria exagero afirmar que o agronegócio e a indústria alimentícia são os grandes responsáveis pela debilidade da saúde das populações e os maiores causadores do desequilíbrio ambiental. Tal legado é fruto da cumplicidade nefasta existente entre capital e exploração e que encontra nos modos de vida atuais, um grande mercado consumidor, ávido por produtos prontos que lhe confira mais comodidade. Fechando esse círculo vicioso temos o receituário da medicina ocidental, muito mais orientada para remediar do que prevenir, compactuando com os interesses da indústria farmacêutica cuja sobrevivência depende dos costumes alimentares equivocados. E assim a vida vai seguindo ao ritmo da cumplicidade do mercado: algumas indústrias nos oferecem o veneno, outras, o remédio.
Nos últimos anos, muitas pessoas em todo o mundo, têm experimentado novos hábitos alimentares, que vão desde a abstinência aos refrigerantes, massas brancas e o açúcar, até as gorduras e enlatados, priorizando o consumo de frutas, legumes e verduras cultivados organicamente, sem agrotóxicos. Esse comportamento tem a grande virtude de incentivar e de sustentar a prática da agricultura orgânica, além de ajudar a fixar o homem no campo uma vez que a mão de obra é totalmente artesanal. Como resultado dessa experiência que vem ganhando força em todo o mundo, tem-se a oferta de produtos saudáveis, livres de agrotóxicos, a partir de um exemplo de desenvolvimento sustentável.
Como se vê, há uma estreita relação entre a alimentação e a causa ecológica. Sendo o planeta um organismo vivo, do equilíbrio dessa relação dependerá seu futuro e da própria humanidade. Vejo o retorno e o apoio de parte da população às práticas da agricultura ecologicamente correta como um resgate da harmonia que um dia existiu entre o homem e a natureza.
Dermival Moreira
É bancário aposentado, com Licenciatura em Geografia na UFPE e é autor de “Identidade e Realidade – artigos e crônicas”.