Foto: Ana Carolina Moraes

Quando criança, principalmente, diante de alguma situação que envolvia nossos pais, quer fosse por alguma teimosia ou travessura, por algo que nos frustrasse ou ainda por medo, por dor ou por amor, quantas vezes ouvimos a expressão “engula o choro”? E assim o fazíamos! Contrariados, sem entendermos o porquê, silenciávamos o choro, engolíamos as lágrimas que rolavam pelo rosto e nos recolhíamos até que estivéssemos liberados. Comumente tínhamos novas coisas para viver e fazer: a escola, a hora do lanche, as brincadeiras e, com elas, o riso chegava e nos fazia companhia.

Quando adolescentes, o encantamento das primeiras paixões gera, por vezes, sentimentos antagônicos e bastante próximos no tempo, tais como euforia, angústia e tormento. Haja riso, haja lágrimas e, nesse movimento, se vai crescendo, se desenvolvendo, amadurecendo.

Quantas mulheres engolem o choro e o riso porque estão vivendo situações de violências, muitas vezes sequer sem percebê-las ou identificá-las?

Mundo afora e bem perto de nós, quantas expressões são caladas e subjugadas por meninos e meninas, por jovens e idosos, por homens e mulheres? Riso e lágrimas contidos, velados, silenciados, marcados na alma e na face.

Às vezes engolimos o choro e o riso para corresponder a algo que esperam de nós. Por decoro, aparência, submissão.

Há riso seguido de lágrimas e lágrimas que se misturam ao riso quando nos emocionamos ao realizarmos algo que queríamos muito e supúnhamos impossível, inimaginável.

Há lágrimas quando assistimos ao noticiário e vemos guerras infundadas que dizimam e segregam pessoas, seguidas por outras lágrimas e riso de alívio e contentamento por vermos resgates e retornos para casa.

Há riso e lágrimas quando assistimos a um filme, quando escutamos uma música, quando estamos diante de uma obra de arte que nos invade, quando lemos um livro e nele nos vemos.

Há riso e lágrimas diante da grandiosidade da natureza. Como não nos maravilharmos com um banho de cachoeira, uma trilha pela mata descobrindo sons e texturas, descortinando paisagens (onde elas vão dar?), luz e sombra (em nós)?

Um banho de chuva que leva, lava e limpa; que me(nos) remete à infância pisando nas poças e gargalhando, porque estar com a roupa encharcada e suja de lama era motivo de alegria e subversão, assim como apertar as campainhas das casas e sair correndo. E ainda competíamos para ver quem na turma mais fazia isso e escapava do “carão” ou do castigo dos pais!

Há riso e lágrimas na entrega de um banho de mar. É uma celebração deixar-se banhar! É se perder e se achar. É se encantar! É se ver pequeno, é se ver pequena diante de tamanha beleza e imensidão, mas fazendo (a sua) parte, criatura e criador.

Riso e lágrimas se fundem no amor e na dor, no êxtase e na consternação, no menosprezo e na contemplação. Embaixo do chuveiro, num banho de mar – sozinho, sozinha ou a dois; num momento de oração.

Há lágrimas e riso quando despertamos e enxergamos algo que até então nos cegava, limitava, aprisionava e conseguimos romper, atravessando fantasias, sustentando o desejo, apostando e investindo no que vivifica e é possível.

Há riso e lágrimas nos começos e nos fins.

Há riso e lágrimas no nascimento e na morte – inclusive nas pequenas do dia a dia; nos temporais e na calmaria; em dias cinzas e nublados e noutros de céu azul e sol claro; nos encontros e desencontros; no abraço (a)guardado. Sozinhos – na multidão ou consigo mesmo; na liberdade e no aprisionamento; nas despedidas e no encontro de olhares, no arrepio da pele e no beijo desejado.

Riso e lágrimas se encontram quando nos damos conta das nossas limitações e faltas, na autonomia e na dependência; nos sofrimentos, medos, erros e culpas que guardamos.

Há riso e lágrimas quando visitamos memórias ao encontrarmos um antigo álbum de fotografias. Até nas atuais plataformas que nos trazem recordações dos mais recentes dias.

Ao organizarmos armários e gavetas, quantas descobertas podemos fazer! O que lá está guardado que muitas vezes não queremos ver? Que coisas são essas? Estão apenas lá ou aqui dentro também?

Há riso e lágrimas que se entrelaçam no passado, no presente e no futuro, um alterando o outro.

Há riso e lágrimas quando descobrimos que o amor e a vida não nos dão garantias, que amar e viver é trabalhoso, mas não necessariamente sofrido. Que não há manual de instrução, que não há receita pronta, que não há a grande verdade. Há a dignidade da diferença, da singularidade, do um a um. Há a inconstância da vida, com toda sua beleza, mistérios, ambivalências, intensidades, pequenezas, oportunidades e (im)possibilidades. O que (me) nos cabe? Seguir seu fluxo, apostando nos laços e na diversidade da existência!