Eu S/A

A minha composição genealógica garante um número absoluto infinito, múltiplo de cem, no somatório de tantos relativos.

Explico.

Eu detenho o controle de cem por cento de mim, mas me espalho em antepassados que dividem igualmente as minhas cotas genéticas, somando cem por cento, a partir dos meus pais (pai e mãe) que detêm, cada um, cinquenta por cento. Os meus avós têm ações preferenciais nominativas, com vinte e cinco por cento reservados individualmente para os quatro.

O moço desta foto, com aparências de um dinheiro que eu nunca pude possuir, esteve presente em meus livros de histórias e tem, mesmo, o nome curioso do almirante português, cuja família remonta ao primeiro e lendário rei da Macedônia, que tinha Hercules e, portanto, Zeus entre os seus signatários acionistas.

Os primeiros Cabrais que aportaram no Nordeste se jactavam desse parentesco nobre e dele se armaram para suprir uma pobreza lusitana, talvez provocada pelo famoso terremoto, terminando sesmeiros em Patos das Espinharas, na Paraíba, descambando, depois, para o Ceará – de cujo ramo descendo.

A nossa biografia familiar pode nem ser verdadeira, mas está bem contada, especialmente por um parente que não gostava do meu bisavô, seu tio-avô que, rejeitando ser padre – como queria o pai dele, meu trisavô, – não pode concluir o curso de Direito, em Olinda, e terminou desposando uma bela mulher de nome Isabel, trazendo à nossa tradição lusa o culto africano ao sangue, dado que a sua, dele, mãe (minha trisavó) era uma cafuza de romântico nome: Inês Inocência.

O escritor abusado, mas refinado, é Tomé Cabral (autor de Patuá de Recordações e de um belíssimo Dicionário de Termos e Expressões Populares).

O avô é Teófilo Cabral, o boêmio acadêmico que não se graduou para terminar pai de três meninas que casaram e viveram no Riachão, mas assinaram seus nomes em caligrafia nos assentos do matrimônio. As meninas são Maria (a minha avó), Júlia e Suzanna.

Dos filhos de Maria, eu descendo de Badia, batizada Neuza, a que é sócia igualitária de Irapuan, meu pai.
Não sei qual a cota de Zeus em mim, e com quem ele me divide, mas continuo, como dizia Jacinto de Tuniquinha – meu colega de infância – filho de Eva e Adão e afilhado de Padim Ciço.

Apresento-lhes o meu trisavô, Francisco Álvares Cabral, e a sua descendência em mim.

PS.: O meu irmão Oscar entrou na história, porque eu não sei o que eu sou sem ele.