Ventos. Luzes piscando. Chuva. Barulho. Enquanto eu sentia medo do lado de dentro, temia pelos do lado de fora. Fossem gente ou animais.

Bem que a moça do tempo avisou. Confiei em Ivete. Ela prometeu macetar o apocalipse. Mas não tem macete certo quando o mundo não se importa. Em meio a guerras por pedaços de chão travestidas de conflitos bíblicos e mais um tanto de razões, ninguém atenta desse chão estar sumindo.

Ele, as árvores, as águas, os animais. Cada espécie, de fauna ou flora, importa. Ecossistema. Ficamos todos ou caímos todos. Vírus, insetos, água parada, teimosia, falta de vacinas. Interpretação de texto. Nos falta o que pode nos salvar de nós mesmos. Nos excede a extinção.

O arrebatamento, Baby, não vinga se não tivermos céu para subir. Camada de ozônio, sol de rachar, calor dos infernos (sem precisa descer). Não há reza certa para ações equivocadas. Transfobia na beira do açude. Velhos conceitos sobre certo e errado. Homem e mulher.

Em nome da honra, da posse, do ciúme. Filhos sem mães. Mães sem filhas. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Ah, Pessoa, de tecido chinfrim, nossa alma encolhe a cada lavagem.

Do lado de fora dos templos, sejam seculares, de terra batida, banhados a ouro, ou tijolo e cimento, gente com fome, sede, desnuda. Roupa e dignidade. Do lado de dentro, umbigos estufados. Salve-se quem puder.

Não.

Salvem quem puderem. Da intolerância, do infundado, das narrativas maniqueístas, da ingenuidade. Do controle pelo medo.

Aguenta, pequena Eva, ainda não é o fim da aventura humana na Terra.

 

 

Nadezhda Bezerra – Professora, escritora e roteirista. Co-fundadora da Massa, empresa de Marketing de Conteúdo, consultora em conteúdos audiovisuais no Fábrica Estúdios, redatora-colaboradora da Revista Mensch, Professora do Unipê. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco(2007), Especializada em Propaganda e Marketing pela Universidade Federal de Pernambuco (2001). Graduada em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal de Pernambuco (1997).