Cajá é uma fruta de gosto singular. Entre o doce e o ácido, seu sabor é indescritível. De cor alaranjada e textura aveludada, o suco de cajá é tão refrescante quanta a brisa que sopra à noite no Sertão arrefecendo o calor do dia. Logo que bebo um gole de um suco de cajá, sou transportada aos veraneios nas praias de João Pessoa nas férias escolares. Adulta, em um passeio a Salvador, descobri que misturado à vodca, o suco transmutava-se em caipirinha, uma bebida com o poder de curar qualquer saudade. Na minha vida, já bebi bastante suco de cajá, puro ou misturado. Qualquer um pode imaginar que nada mais havia que eu desconhecesse de cajá, engano.

Dias atrás, fui surpreendida ao ver, por foto, uma cajazeira. Cajazeira ou cajazeiro, como preferir, é a árvore do cajá. O que me espantou não foi a existência da árvore, pois sempre intuí que o cajá tinha uma “mãe”, o que me espantou foi o nome. Quando nasci, meus avós já haviam migrado do campo para a cidade, e o nome Cajazeiras citado nas conversas nostálgicas em família referia-se ao lugar onde minha avó materna nascera e, mais tarde, ao nome da cidade de origem de uma colega de faculdade.

Como eu nunca relacionei cajazeira a cajá, mesmo sendo do Nordeste, região onde cajazeiras florescem lindamente? Adoro quando descobertas simples conseguem me espantar. Isto me lembrou do dia em que descobri que pereira é a árvore das deliciosas peras. Para as crianças dos sertões mais secos, nascidas antes da globalização, frutas como pera, morango e pêssego só existiam nas brincadeiras de “salada mista”, e Pereira era tão somente o sobrenome da amiga Ana Maria.

Foi uma epifania ver a foto de uma cajazeira e descobrir o arranjo dos frutos em cachos. Contudo, havia algo que me intrigava neste caso: se pera é o fruto da pereira, manga da mangueira, por que eu não nunca liguei cajá a cajazeira? Além de já de ter associado Cajazeiras ao nome de lugares, eu tinha uma crença: como a maioria das crianças das grandes cidades, que acreditam que o leite vem das caixinhas, eu, por muito tempo, acreditei que os cajás brotavam dos pratos de ágata lascados cheios de frutas coloridas, expostos nas bancas de madeira encardida fincadas à beira da estrada do sertão para o litoral nos dias de viagem de minha meninice. Mas foi um alento perceber que sigo abrindo mão de algumas crenças e continuo levantando o véu para descobrir novos sentidos para coisas já conhecidas.

 

Ceiça Cirilo

 Nasceu em Patos (PB) e reside em João Pessoa. É graduada em Engenheira Civil pela UFPB. pós-graduada em Filosofia Contemporânea pela PUCRJ. Membro do Clube do Conto da Paraíba. Participa de Horizonte mirado da lupa – cem poemas contemporâneos da Paraíba , antologia org. Lau Siqueira (2022) e Um rio na ponta da língua – 1 Concurso Luzia Teresa de literatura produzida por mulheres paraibanas, antologia org. Jennifer Trajano (2024).