Venham ver as rapinas, peçonhas, escamas e fogo

Nos recantos vibrantes da capital da Paraíba, a cena literária independente floresce e germina criatividade, diversidade, qualidade estética, revolução e expressão através de múltiplas linguagens artísticas. Movimentos culturais únicos emergem, desafiando fronteiras e celebrando a liberdade de ser no mundo para além da poeira que recobre o cânone. Nesse contexto pulsante, destacam-se o Sarau Selváticas (Fundado em Maio de 2017), a Editora Triluna (Fundada em Outubro de 2019), o podcast Linha Negra (Criado em Março de 2023) e a produtora cultural feminista Torre das Bruxas (Fundada em Maio de 2023), cada um deixando sua marca na rica história literária do estado.

O Sarau Selváticas: Na gênese da palavra – selvagem!

No coração da cena literária paraibana, o “Selváticas” é um sarau que ecoa as vozes de mulheres cis/trans/travestis e suas narrativas. Esse espaço itinerante se transforma em um palco para mulheres escritoras, poetisas e artistas partilharem seus trabalhos, suas experiências, sonhos e lutas. O Selváticas desafia os padrões impostos por uma sociedade machista, patriarcal, racista, misógina e que ainda cerceia as liberdades das mulheres. O Selváticas é o 1º sarau declaradamente feminista, com recorte exclusivo para textos e participações de mulheres fundado no estado. Desde 2017, o projeto fundado por Anna Apolinário e Aline Cardoso conta com 8 edições potentes e plurais, que lançam luz sobre a importância de celebrar as literaturas, identidades, particularidades e histórias das mulheres. O Selváticas também é pioneiro na produção e difusão de lambes de poesia no estado, colorindo muros com literatura. Em Julho de 2022, na 7ª Edição do Sarau Selváticas, um dos momentos da programação foi a produção da foto histórica assinada pela fotógrafa Vanessa Pessoa, com participação das autoras da cena local. O material fez parte do movimento Um Grande Dia para as Escritoras, iniciado em São Paulo. Todas as fotos feitas no Brasil e no exterior viraram um livro que foi publicado pela editora Bazar do Tempo, organizado por Giovanna Madalosso. O lançamento do livro em João Pessoa está previsto para Setembro de 2023, na 9ª Edição do Sarau Selváticas.

Editora Triluna: A palavra é flecha no arco dos lábios/ Lúmen selvagem que dissipa o breu

A Triluna é mais do que uma editora independente; é um quilombo poético que conecta autores e leitores por meio da poesia e da pluralidade de pessoas publicadas desde Outubro de 2019. Com publicações que abrangem uma variedade de poéticas, projetos estéticos e estilos, essa editora paraibana revela novos talentos e, sobretudo, valoriza a voz única de cada escritor. Seus livros são verdadeiras joias literárias, cada um contando uma história que ressoa dilacerando a invisibilidade imposta aos poetas dissidentes, historicamente silenciados. A Triluna é uma nanoeditora gerida por Aline Cardoso – esta que vos escreve –, professora, editora, escritora, mãe solo e dona de casa que já publicou mais 30 títulos, criou o edital afirmativo Lua Negra, atualmente em seu segundo ano de publicações escritas por mulheres, pessoas negras e pessoas LGBTTQIAP+.

Podcast Linha Negra: Dedicado à concentração, inquietação e multiplicação de vaga-lumes

“E aí, por que você escreve/canta/dança/fotografa/faz arte?” – O podcast “Linha Negra” busca inquietar artistas de várias linguagens a responderem a essa pergunta por meio de breves depoimentos sobre as forças que os movem, os sonhos e princípios que guiam os fazeres artístico-criativos. O principal objetivo do podcast é aproximar os artistas da juventude e assim, inspirar novos talentos, além de também colaborar para a vivificação de quem já exerce o trabalho artístico. O podcast está disponível gratuitamente nos streamings Spotify e Amazon Music. Por trás de cada episódio, existe a busca pessoal e coletiva por empoderamento, representatividade, dignidade e valorização dos operários da cultura.

Torre das Bruxas: Transmitindo a Produção Cultural Feminista Contemporânea

A “Torre das Bruxas” é uma produtora cultural que busca resgatar e fortalecer a potência das mulheres e de suas histórias por meio dos seus fazeres artísticos. Com uma abordagem interseccional e feminista, a produtora busca desmistificar o termo “bruxa” e desestabilizar a figura da “torre”, como lugar de isolamento, aqui, a torre é símbolo de reverberação e partilha, empoderamento e conexão. A Torre das Bruxas produz shows, performances, saraus, podcast e está preparando em breve o lançamento de uma revista de arte e cultura.

Nesse rico caldeirão cultural, a Paraíba revela uma diversidade de vozes e perspectivas que se entrelaçam para criar movimentos poderosos, cativantes e significativos. Do palco do “Selváticas” às páginas da “Triluna”, do áudio do “Linha Negra” às atividades da “Torre das Bruxas”, cada movimento literário independente traz em si novo fôlego e inspiração.

 

Por: Aline Cardoso – Escritora, Editora, Multiartista, Professora e Mestra pela UFPB, Produtora e Gestora Cultural.