Ela tem 26 anos, lê bastante, quer se tornar escritora e está tentando escrever o seu primeiro romance. Já leu vários livros meus, diz que é fã da minha escrita e, recentemente, me perguntou qual é o meu processo para começar a escrever um romance.

Respondi que, quando tenho uma ideia, costumo anotá-la num papel ou no arquivo do computador. Depois disso, deixo que a ideia amadureça na cabeça, vou criando imagens e personagens que nem sei se estarão no livro, mas preciso fazer isso… Depois, quando já tenho uma certa segurança, me sento e escrevo a sinopse. Após o primeiro tratamento, faço um esboço para cada cena – o que vai acontecer em cada capítulo, etc… Na televisão chamam isso de Escaleta. E eu costumo fazer a escaleta de um romance porque geralmente funciona.

Então ela ficou curiosa sobre a parte da sinopse. Disse que estava enganchada justamente na sinopse do seu livro. Perguntou se poderia lhe apresentar um exemplo…

Bem, eu geralmente não gosto de revelar isso, não costumo entregar a ninguém, porque a sinopse é um guia que serve apenas para mim, não interessa a leitores…. Mas, enfim, lhe entreguei a sinopse do romance que estou escrevendo, intitulado “Poesia e Esperança”. Escrevi-a há uns dois anos, e o livro se encontra em desenvolvimento e com muitas narracções que nem constam na sinopse.

Mas segue o que enviei para ela e que resolvi compartilhar aqui. Tudo começou com a seguinte sinopse:

“POESIA E ESPERANÇA – esboço para um romance

Uma família vive em torno da poesia. Tudo é poesia – o trabalho, os estudos, o lazer, os almoços e jantares e cafés da manhã. Não há nada que não passe pela poesia. Não há poesia que não entre naquela casa. Aliás nada ali penetra, se não for poesia…

Os visitantes, quando entram, têm que ler pelo menos uma poesia que está estendida no varal. Ou pegar um livro na entrada e ler um poema qualquer. Bom dia com poesia; Boa tarte com poesia; Boa noite com poesia… Até o cardápio diário tem nomes ligados à poesia e aos poetas:

“Que temos hoje para o jantar?” – o marido pergunta.

“Hoje tem Sopa Neruda” – responde a mulher.

Ou então o Feijão Vinícius, o Café Drummond, o Pão Camões, a sobremesa Lorca e assim por diante!

É uma casa simples. Com um marido, uma mulher e duas crianças – um menino e uma menina. E tudo por causa da seguinte historinha:

Anos atrás ele (o marido) era um rapaz sonhador e cheio de romantismo. Apaixonava-se pelas garotas e tentava conquistá-las com declamações de versos. De todas, ouvia uma negativa – tipo “Não me venha com poesias”.
Algumas achavam lindo, mas depois sentia falta de outras coisas e o abandonavam… Claro. Ele não beijava. Pouco as tocava. E gostava de falar da lua em excesso.

Até que conheceu a moça da poesia (a esposa desta história)… A única que aceitou poesia do início ao fim, pois ela soube dosar e compreendê-lo.

E se casaram. E ornamentaram a casa de poesia. E crianças nasceram e vieram nesse universo. E elas vão pra escola e estudam, fazem o dever de casa e a tudo respondem com poesia, até mesmo quando se trata de aritmética, química ou física – respondem com poesia…

Fazer um romance com a história dessa família. Uma fábula sublime, cheio de encantos e de imagens poéticas em todas as ações. Uma narrativa poética que descreva ações, sentimentos e reflexões com uma linguagem que pode ser um misto de prosa e poema longo.

“Poesia e Esperança”, este o título que pode ser dado ao livro. Uma espécie de Cântico dos Cânticos…

(Favor desenvolver a escaleta com a trama envolvendo essa família que será perseguida e enfrentará uns certos dissabores por contrariar interesses de uma sociedade que vai se sentir ameaçada pela poesia…)