Eles se conheceram na festa da padroeira da cidade. No vai e vem da multidão que caminhava pelas ruas estreitas, graças as barracas montadas de um lado e de outro, esbarraram-se com força. Os olhares se cruzaram. Abriram a boca ao mesmo tempo para reclamar do encontrão, mas as palavras silenciaram, porque os olhos estavam próximos e se atraíam, como ímãs.

Os olhos verdes dele, penetrantes, não deixavam que ela piscasse. Ela estava hipnotizada. Olhos verdes e calmos, como um mar profundo que esconde muitos segredos. Saiu do transe quando ouviu as amigas chamar seu nome. Voltou-se rapidamente, e foi em direção a elas, que esperavam impacientes. Durante a caminhada até a barraca da maçã do amor, ela manteve-se calada e pensativa; as amigas começaram a se preocupar, porque Anabel é tagarela.

Pagas as maçãs do amor, saíram todas rindo, em direção aos banquinhos da praça. Sentada na ponta do banquinho, ao morder sua maçã do amor, levanta os olhos e vê, no banco em frente ao seu, o rapaz dos olhos verdes, com quem esbarrara no início da noite. Ele está sozinho. Parece relaxado, olhando alguém jogar na pescaria. Anabel sente-se fortemente atraído por ele. É alto, forte, cabelos pretos e longos, e tem mãos grandes. Mãos de homem que sabem amar. Qual será o seu signo, pensa. Ela gosta de horóscopo, de combinar signos.

Ele percebe que está sendo observando, volta-se na direção de Anabel, e uma sombra de sorriso tímido aparece no canto da sua boca. Anabel lembra-se da previsão do horóscopo do dia: encontrarás o amor, mas cuidado. Ela é sacudida pelas amigas dizendo que já é hora de voltarem. Ela concorda, mas pede para jogar na pescaria. Que levar um brinde para casa. Todas concordam e vão.

Do outro lado, o rapaz de olhos verdes também se levanta e vai em direção ao jogo. Sem perder tempo, Anabel retira uma caneta da bolsa e um papel; escreve seu nome e telefone. Agora eles estão lado a lado. Ela aproveita o momento para fazer uma bolinha do papel escrito e jogar nele. Novamente seus olhos se encontraram. Ela sorri e vai embora com as amigas. Em casa ela pensa: ”se ele for o meu amor, como previra o horóscopo, vai me encontrar.”

Passadas duas semanas e nem sinal dele. Anabel está aborrecida. Como o horóscopo pode enganá-la, e para aumentar o seu aborrecimento, está escrito no seu signo, no jornal diário: “hoje o amor baterá a sua porta.” Melhor mesmo é esquecer essa coisa de signos. Resolve se trocar e ir para a universidade. Toma o ônibus. Vê um lugar vago. Ao sentar-se, quase desmaia. Ao seu lado está sentado o rapaz de olhos verdes.

Recatado, como das outras vezes, diz um tímido oi. Anabel aproveita e solta: por que não me ligou. Ele respondeu calmamente que perdera o papel ao tirar a carteira do bolso. Ela sorri sedutoramente. Ao pedir parada e levantar-se, ele a acompanha. Chegam juntos à Universidade. Agora estão apresentados. Desse dia em diante, encontram-se quase todos os dias.

Como ele é tímido, contido, fechado, ela, como boa leonina, toma a iniciativa. Convida-o para ir ao seu apartamento. Ele aceita. Iniciam o namoro. Aos poucos ele demonstra ser um homem viril, um amante como a mulher de leão gosta: sexo enlouquecedor, livre, sem amarras. Avassalador. Ele é o amante ideal, mas não o homem, o parceiro ideal para a mulher leonina.

Como todo capricorniano, ele tem pés no chão, é sério, austero, racional. Não demonstra seus sentimentos. É solitário. E o seu pior defeito é o mal humor. A leonina é confiante, comunicativa, exuberante, alegre, cheia de vigor. Inevitavelmente a relação teve fim. A culpa não foi deles, foi dos signos. Leão e capricórnio são incompatíveis.

 


Francisca Vânia Rocha
Clube do Conto
Tema: Culpa dos signos.