Talvez o tempo seja a minha obsessão. Já brigamos, fizemos as pazes e volta e meia ele me assombra ou me acalma. Sou a aquariana mais focada no presente que eu conheço. Desconhecendo meu ascendente e o que ele poderia dizer de mim, ando com pensamentos de futuro. Daqueles que agonia o sossego e tira a gente do balanço da rede.

Cinquenta anos este ano. Já se vão 6 meses. Celebro com alegria e algum colágeno, com um apocalipse hormonal e alguma sabedoria. Talvez seja isso. Talvez não seja. É justo colocar tudo na conta da perimenopausa, climatério e afins? Não sei.

Só sei que é assim. Dias de luta e dias de glória. Desde sempre. Gostaria eu, só das glórias daqui pra sempre. Cuidado com o que você deseja. Pode dar certo. Tem dado até aqui. Um certo meio incerto. Um todo pouco inteiro. Um lotado pouco completo. Seria essa a vida do artista?

A arte do bem viver. Copo meio cheio, esperança no nome, positive vibrations, fitinha no tornozelo, Santo Anjo antes do sono, sinal da cruz após as refeições. Respira. Eu tenho essas manias estranhas de ter fé na vida e no que virá.

Danado é que se eu puxo a marmita do freezer sem saber qual vai ser o almoço, e tudo bem a surpresa, de uns tempos pra cá eu desejo um oráculo com notícias dofuturo.

Curiosidade ou ansiedade? Preocupação, será? Vixe! Em plena atividade na rua, na chuva, na fazenda e na casinha de sapê (na academia e na frente do computador), tenho sonhos de aposentadoria.

Nada de ficar sem fazer nada. Isso não tem jeito, não veio na configuração. O sonho é uma renda fixa, líquida e certa, regular, todo mês (como era a menstruação).Daquela que a gente gasta no crediário, parcelada em meses a perder de vista. O pesadelo é o patriotismo às avessas. Cruz credo. Além das tantas regras e do tempo que ainda falta. Quem mandou não se dedicar a concurso?

Agora eu que estude. Eu que lute (mais). Atucalhe os caminhos possíveis, abra os estreitados e dê tempo ao tempo (vai que ele precisa mais que eu). Sossegue o fachoe aproveite que não tem fogacho.

Se esta crônica não fez sentido, tudo bem, tem texto que é perdido mesmo. Que nem os hormônios.

Autoria:

Nadezhda Bezerra : Escritora, roteirista e produtora de conteúdo para internet. Autora de O lugar das coisas possíveis (Opera,2024), Enquanto eu dormia: revelações de amor é fé de Sumaya Mahon (Caroá, 2024) e Obrigada por vir (Opera, 2022). Tem participação em coletâneas e antologias. Criadora e roteirista de Jorge quer ser Repórter (TV Globo e GloboPlay, 2025) e Frei Damião, o Santo do Nordeste (Melhor Roteiro Comunicurtas 2019), além de outras produções. Mestre em comunicação, membro do Clube do Conto da Paraíba, do Movimento Mulherio das Letras e do Coletivo Escreviventes.