Desde os primórdios da humanidade, o cérebro humano funciona ao receber estímulos e ao ter experiências na sua interação com o ambiente à sua volta. Trazendo para a atualidade, é como quando uma criança aprende que não deve colocar o dedo na tomada após colocar e sentir um choque, ou quando a mesma criança aprende a ter medo do fogo ao colocar a mão perto de uma vela, por exemplo.

Ao longo do tempo, os seres humanos aprenderam a comunicar esses aprendizados e experiências de modo a ganhar tempo para novas descobertas. Saberes comuns eram reproduzidos e cristalizados no cérebro das comunidades. A “inteligência” propriamente dita tomava forma justamente nesse processo: ciclicamente absorvendo ensinamentos e criando aprendizados próprios, com o objetivo de usá-los em sua vida e reproduzi-los para seus descendentes.

Gestos viraram palavras (nos mais diversos idiomas). Palavras, após um tempo, viraram livros, acessíveis e eficazes para armazenar o conhecimento. Com a internet, livros viraram vídeos, blogs e portais eletrônicos (como este em que você está agora).

Agora, o que vem a seguir?

Para as “Big Techs”, responsáveis pelo avanço de inúmeras tecnologias do século 21, as limitações impostas pelo organismo humano tornam imperativo que só há um caminho a se seguir: romper completamente com a biologia, mesmo que isso nos leve desconsiderar emoções, memórias e barreiras eticamente expostas em prol de um único objetivo, a eficiência.

É um processo levemente silencioso, mas já em curso: empresas como Meta (Facebook), Alphabet (Google) e Microsoft já investem diversos bilhões de dólares anualmente em Inteligência Artificial, ao passo em que demitem milhares de trabalhadores cujo esforço pode facilmente ser substituído com os frutos desse investimento bilionário.

E isso não é algo novo ou sequer feito à obscuras, o próprio CEO da Meta (empresa dona de Facebook e WhatsApp) já tentou suplantar o espaço físico pelo digital ao propor a criação de um “Metaverso”, realidade virtual onde as pessoas iriam interagir e socializar sem sair de casa.

Tecnologias como carros que se dirigem sozinhos e “robôs” virtuais que já substituem o trabalho de uma consulta médica ou advocatícia já são realidade e no curto prazo serão acessíveis para a maioria da população.

Não me entendam mal, por vezes já me vi recorrendo ao ChatGPT para tirar alguma dúvida ou reescrever alguma mensagem. Enquanto ferramenta atribuída à uma inteligência orgânica, a artificial é inofensiva e serve como ferramenta de produtividade. Auxilia nos fluxos de trabalho e não é uma “competidora” à razão humana ou à própria natureza orgânica que nos comporta. Mas porque as empresas de tecnologia cortariam seus investimentos ou parariam de tornar as IAs autossuficientes e mais poderosas? Não faria sentido comercial.

A pergunta que deixo, para refletirmos, é: o que ocorre quando a inteligência artificial reduzir à humana a algo do passado? Como será regida uma relação de trabalho onde a IA pode executar 90% (ou mais) dos trabalhos exigidos em sociedade?

Qual o futuro da inteligência (humana), então?