Confesso não ser aficionado em datas pré-estabelecidas para serem lembradas e comemoradas, remetendo a um único dia a sua real valia. Algumas delas foram criadas unicamente com a visão mercantilista com o objetivo de aquecer o comércio, induzindo as pessoas a uma comemoração praticamente obrigatória. O Dia dos pais, das mães, das crianças e dos namorados são algumas delas.

Muitas outras datas, porém, são atribuídas a fatos históricos ou religiosos.

O Dia do Nordestino – merecidamente lembrado, virou no ano passado Projeto de Lei Nacional, mas é interessante lembrar sua história.

Os dias comemorativos ou históricos são determinados através de Leis, sejam no âmbito municipal, estadual ou federal. O Dia do Nordestino foi instituído através da Lei 14.952, em 2009, pela Câmara de Vereadores de São Paulo, portanto uma Lei Municipal. Foi escolhido o dia 08 de outubro por ser o ano do Centenário do poeta cearense e compositor Antônio Gonçalves da Silva, o conhecido Patativa do Assaré.

Em 2019, porém, a Lei foi revogada e alterado seu texto, passando a data a ser comemorada no dia 02 de agosto, em homenagem a Luiz Gonzaga – o Rei do Baião, falecido nessa data. Já no Rio de Janeiro a data era comemorada no dia 13 de dezembro.

Para acabar com essa disputa, o senador Angelo Coronel (PSD-BA), criou o PL 2755/2022 nacionalizando o projeto e oficializando o dia 08 de outubro como a data a ser comemorada anualmente.

Mas, a data escolhida dessa vez foi para homenagear Catulo da Paixão cearense,conhecido como o poeta do sertão, nascido exatamente no dia 08 de outubro de 1863, em São Luiz do Maranhão.

Independente das trocas dos homenageados, o que não falta é personagem cultural de relevância. Só para lembrar, Ariano Suassuna e Paulo Freire, são representações que nos orgulha.

O Nordeste, sem dúvidas, é o celeiro cultural do Brasil. As influências das culturas indígena, africana e europeia imprimiram ao Nordeste um grande diferencial. Seja nas artes, cultura, festividades religiosas e profanas, na cultura popular, na diversidade de ritmos e cores e na gastronomia, somos infinitamente mais ricos do que qualquer região do Brasil.

E foi pensando nisso que o artista Juzé, exatamente há um ano, compôs uma música para homenagear todos os nordestinos. Na época, Juzé junto ao parceiro Lukete, aparecia todos os dias na telinha da Globo, encerrando a novela “Mar do Sertão”, onde os dois apresentavam as cenas dos próximos capítulos, em uma forma engraçada e diferente, lembrando cantadores repentistas, sem necessariamente obedecer às regras desse estilo, mas bastante criativos e bem humorados.
O fato é que caiu nas graças do povo, e até quem não é noveleiro adorava ver o final da novela para se deliciar com as presepadas dos dois.

Segundo o próprio Juzé, essa música foi composta no dia 08 de outubro de 2022:

“Eu estava vivendo um belíssimo momento na carreira, na novela. Eu e meu parceiro Lukete como dupla estávamos sendo reconhecidos pelo nosso trabalho, principalmente pelo povo nordestino. Como poeta que sou, nesse dia dedicado ao nordestino, não tinha escrito nada, uma linha, uma quadra, nenhum verso, palavra, refrão que remetesse a esse dia. Com essa reflexão, deitado em minha rede em Copacabana, começaram a vir os primeiros versos. Disse para mim mesmo: “É agora!” Me levantei e joguei todo sentimento nordestino que habita em mim. A festa, a força nordestina de enfrentar os preconceitos, o povo guerreiro, feliz, alegre, espontâneo, artístico, criativo e talentoso. Esse single vem com a voz desses sentimentos todos dentro de uma canção.”

De fato, ao ouvir a música de Juzé, senti de imediato uma forte miscigenação, típica da cultura nordestina, a começar pela toada inicial, uma espécie de uma “chamada feita a ordem” que me remeteu a João do Vale e seu carcará. O toadeiro solitário logo é levado a passear na batida da levada gonzaguiana do baião. Mas, não para por aí. Ao desatar o nó, os “Zés” da Paraíba arrocham ainda mais na levada, chegando a parecer que o coco resolveu dar uma passeada no baião com direito a embolada e tudo mais. A música de Juzé surpreendeu.

Além de conteúdo, “Nordeste Destino”, tem versatilidade musical, sonoridade de raiz e uma rica e forte interpretação, tornando a música ainda mais genuína.

Não se trata apenas de notícias boas trazidas pelo vento e sim um convite a um mergulho musical e inovador, fazendo com que todo nordestino se sinta mais vivo e mais presente a cultura que lhe norteia.
Parabéns Juzé! Viva o Nordeste e o seu Nordeste Destino.