Pureza, uma viúva de meia idade, era a mais antiga moradora daquela rua tranquila e pacífica. Quando o seu falecido esposo construíra a sua casa, tudo ao redor era mato. Com o passar dos anos, aos poucos foram surgindo novos moradores, até que uma rua fosse formada.

Mais de trinta anos depois, com o crescimento do bairro e, consequentemente da população, aquela rua, 13 de Maio, no Centro da capitalparaibana, ainda é conhecida pela calmaria predominante e pela amizade entre os vizinhos. Contudo, um fato inesperado entristeceu os moradores. Dona Maria José, a dona do casarão da esquina recebeu uma inesperada e irrecusável proposta de compra. Ela comentou com os vizinhos, que foram unânimes em dizer para ela não vender. Entretanto, a tentação do valor oferecido, venceu. E dona Maria José foi morar em um apartamento em frente ao mar.

A tristeza dos moradores aumentou muito quando eles viram o casarão sendo demolido para a construção de um novo prédio. Até aí tudo bem. A confusão se instalou quando eles descobriram que seria a Igreja Evangélica Do Cuspe do Senhor Jesus Cristo. Foi uma revolta geral. Então os moradores resolveram procurar as autoridades que administram a cidade.

Lideradas por Pureza, a viúva e professora aposentada, que ainda traz consigo alguns preconceitos, convidaram, através de ofício, o prefeito da cidade para visitar e, posteriormente,embargar a obra. Ela e as companheiras de luta achavam aquela Igreja uma afronta, uma blasfêmia contra Cristo. Onde já se viu brincar com o Cuspe Santo. Se a saliva humana é poderosa, imagine o cuspe de Jesus Cristo.

Pureza sabia que a saliva é composta por ar, por isso tem o aspecto espumoso, água (99%), 5% ptialina, nitrogênio, enxofre, potássio, sódio, cloro, cálcio, magnésio, ácido, úrico e ácido cítrico. Justamente por isso, a digestão tem início na saliva. Ela sabia também que a saliva humana contém uma substância chamada de imunoglobulina secretória, que tem a função de proteger o organismo contra vírus que invadem o trato respiratório e digestivo.

Pureza pensava e dizia sem titubear: se a saliva humana é tão poderosa assim, imagine o cuspe de Jesus Cristo. E não se conformava com a situação, até que recebeu em sua casa, no final da tarde da sexta-feira, a visita do pastor. Um jovem senhor de olhos azuis e cabelos loiros, que lembra o Cristo europeu. Diante da sua delicadeza, ela permitiu que ele entrasse e sentasse no sofá.

Na sala, ela permaneceu de pé, mas já não estava tão brava como antes. Aqueles olhos azuis e o sorriso delicado aquebrantaram-lhe o espirito. O pastor olhando nos olhos de Pureza perguntou-lhe:

– Então você acha que blasfemo quando falo do cuspe de Cristo. Ficou de pé e pediu para ela se aproximar. pureza obedeceu. O pastou ficou bem próximo dela e disse:

– Abra a sua boca que vou cuspir nela!

Daquele dia em diante, Pureza passou a ser a mais fervorosa devota da Igreja Evangélica do Cuspe de Cristo.