
Mulher, mãe e muitas vezes “mãe e pai”. Como falar de uma criatura maravilhosa como a mulher sem correr o risco de ser redundante e, por outro lado, também não ser reducionista? É muita responsabilidade falar deste gênero humano, mas me arrisquei a homenagear a mulher mesmo assim, tão grande é o meu apreço por este ser, criado ou evoluído, mérito este que não é o objetivo desta crônica.
Tenho minhas dúvidas sobre quem Deus (ou a Natureza), “criou” primeiro. Quando penso que foi o homem, imagino que o(a) Criador(a) tenha percebido que a obra estava incompleta. Quando penso que a criatura primeira foi o ser feminino, imagino que a criação/evolução da espécie humana estava pronta e isso dispensaria seu par oposto. Mas, num capricho evolutivo, a “natureza feminina” aceita a criação do seu oposto sexual, e então, viemos nós… os machos… os dominadores… os caçadores, os guerreiros, para defender o clã e submeter a mulher às suas vontades e abusos. Em sendo assim, teria a natureza errado na sua evolução, ao criar um ser troglodita e egoísta, como nós, os homens – em comparação à graça e sensibilidade feminina? Prefiro acreditar na perfeição da natureza que percebeu na evolução do ser masculino um mal necessário.
Costumo dizer que a mulher é mais completa do que o homem na maioria das características comum a ambos. E o que dizer de uma mulher que também é mãe? Uma mãe que muitas vezes é mãe e pai, se tornando na mais completa criatura entre as espécies vivas? Como se não bastasse, essa mesma mulher também é discriminada, injustiçada, mal compreendida e, por que não dizer, ainda castrada nos seus mais íntimos e primitivos instintos, por razões culturais, religiosas ou morais. Se as injustiças contra as mulheres parassem por aqui ainda estava bom. Mães e mulheres são vítimas de feminicídio todos os dias simplesmente por manifestarem o desejo de serem livres ou mostrarem sua indignação com os ditames machistas, para assim lutarem contra a submissão numa relação abusiva, por exemplo, ou por se oporem a velhos tabus propositalmente conservados por um mundo ainda dominado pelos homens.
Eu fazia parte de um grupo de whatsapp administrado por um amigo/parente com foco em segurança comunitária. Grupo importante para troca de comunicação onde denúncias de roubos e latrocínios repercutiam muito, com opiniões sempre naquele tom de que bandido bom é bandido morto. Mas quando houve um caso de feminicídio em dezembro de 2023, na cidade de Bonito de Santa Fé e que abalou a Paraíba, ninguém, exceto eu, se indignou ou emitiu qualquer opinião comentando o fato. Isso num grupo de whatsapp formado majoritariamente por policiais. Este caso é ilustrativo da indiferença e desconfiança que a mulher ainda sofre quando procura um órgão de segurança numa situação de abuso ou crime sofrido. Após isso continuei emitindo opiniões divergentes ideologicamente da maioria dos participantes e provoquei minha expulsão, que já era solicitada por alguns. Abri esse parêntese sobre essa experiência argumentativa em defesa da mulher para mostrar uma situação corriqueira onde aquilo que diz respeito às causas femininas ainda é ignorado por parte da sociedade – e olha que nesse caso houve um feminicídio.
Mas seria eu, Dermival Moreira, um homem perfeito, empático e compreensivo com as mulheres e o mundo feminino? De forma nenhuma. Também sofro do mal chamado machismo e já dei muita cabeçada e me enganei bastante ao fazer leitura equivocada das demandas e queixas femininas. Faço aqui a “mea culpa” mesmo; errei demais ao lidar com as mulheres que estiveram mais próximas a mim, desde minha mãe, namoradas e esposas, e pago caro por isso. Ao menos hoje tenho essa consciência e procuro melhorar. Que Deus proteja todas as mulheres e que a justiça seja cada vez mais efetiva no seu papel de proteger aquelas que lutam contra o preconceito e sem as quais esse mundo não teria a menor graça. Meus parabéns às mulheres neste 8 de março e minhas sinceras desculpas a todas aquelas a quem magoei ou fiz chorar um dia.

Dermival Moreira
É bancário aposentado, com Licenciatura em Geografia na UFPE e é autor de “Identidade e Realidade – artigos e crônicas”.