Há não muito tempo, fui acometido por uma virose daquelas pós-carnaval. Literalmente, o fato se deu cinco dias após o carnaval deste ano (2024). Acordei com um forte ardor na garganta e sentindo se aproximar uma sensação de dores por todo o corpo, acompanhadas por arrepios que atravessavam a carne. Parecia que estava sendo acompanhado por algo do campo não físico, que aos poucos ia adentrando em mim de forma forçosa e sem nenhum convite. No segundo dia, esta força mal-educada, truculenta e non grata, me derrubou por completo.

Pois bem, ao chegar neste estágio de debilidade, as pessoas que me rodeavam, em especial os familiares, praticando seus cuidados e preocupações, sempre perguntavam como eu estava e, de bônus, indicavam um medicamento para remediar o quadro virótico. Em meio à agudização das dores, inquietações e indicações medicamentosas, anunciei, para a surpresa de todos, que não ia lançar mão de nenhum medicamento alopático. Disse que iria me tratar utilizando apenas algumas práticas que me foram ensinadas por minha vó, e assim o fiz.

Mergulhei, literalmente, de corpo inteiro nesse universo de cura. Entre chás, inalações de panela, escalda-pés e banhos de ervas, nessa ordem, muitas vezes utilizando as mesmas ervas para todas as práticas. Vale aqui uma observação: na composição desses unguentos, para inalação e escalda-pés, acrescentava um pouco de sal grosso, para potencializar as forças já contidas naquela composição aromática, potente, curandeira, profilática e, por que não, poética.

Não trago aqui receitas, nem quero ser um mero testemunho de “bem-estar”. Porém, compartilho um fato real: o uso das ervas, além de outras potências, é também ancestral. E por ser ancestral, é também político, travando batalhas por toda a história da humanidade, batalhas que, mesmo que pareçam ter sido perdidas, ainda se mantêm firmes e sendo praticadas por muita gente que acredita na diversidade dos caminhos na construção do bem-estar. Caminhos que sempre existiram, muito antes da invenção da cápsula e do comprimido. Caminhos que nos ensinam que a penicilina presente na ampola vem da planta que tem o mesmo nome, também conhecida pela ciência como Alternanthera brasiliana.

O que desejo trazer aqui, a partir desse relato, é chamar a atenção para uma reflexão sobre a nossa relação com saúde vs. doença. Sei que todos nós queremos ter saúde plena e sei também que, desejando acabar com as dores, quase sempre tendemos a lançar mão das mais rápidas possibilidades de resolução do quadro doentio. E, no geral, nos deparamos com o universo do mais fácil e rápido que o capital preparou e embalou para nos presentear em frascos, cápsulas e comprimidos. São as já conhecidas propagandas dos milagrosos alopáticos: “fáceis de obter, rápidos, autoexplicativos e eficazes”. Um universo que definitivamente está bem distante do modus operandi das ervas e rezas, que, por sinal, minha vó costumava utilizar na sua prática do cuidado.

Sobre isso, um amigo querido, que mora numa casa de barro que ele mesmo fez, um dia me disse o seguinte:

“Na verdade, no formato da medicina convencional, eu diria que está todo mundo que conhecemos. Quem não está, sofre essa repressão por parte da indústria e das pessoas que, totalmente influenciadas pela propaganda da cura imediata (mentirosa), demonstram uma quase aversão aos formatos naturais.”

Sobre a escolha que fiz em lutar contra o vírus que em mim habitava, confesso: foi uma luta pesada e nada fácil de manter-me fiel aos meus princípios naturais. Porém, percebi que ao passar pela turbulência, traumática e dolorosa, causada pela famigerada virose, tive e tenho até agora a sensação de que meu organismo saiu fortalecido e bem energizado, trazendo-me mais certezas sobre o poder do cuidar pela utilização das ervas e rezas que minha vó sabia fazer muito bem. Por esses e outros afazeres, fora dos padrões industriais, tenho certeza: minha vó era bruxa.