”Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida. Não desistir da luta Recomeçar na derrota. Renunciar a palavras e pensamentos negativos…”
Quando vejo esses versos de Cora Coralina, lembro-me, imediatamente, de um ser humano lindo que chamo de mãinha. Desde que me entendo de gente que chamo minha mãe assim: mãinha – tanto eu, como os meus irmãos. Nascemos no sertão do nordeste e lá é costume essa forma de nomear mãe. Pois bem, ao pensar em escrever essa crônica, fui atrás do significado dessa palavra e encontrei no famoso Google: “Mãinha é um regionalismo usado majoritariamente na região nordeste, em linguagem popular. Embora apenas se encontre dicionarizada em poucos dicionários, mãinha indica uma forma diminutiva e carinhosa da palavra mãe.”
Achei curioso, pois apesar de ser no diminutivo, as mulheres assim nomeadas pelas suas crias, costumam ser grandes! São fortes, cuidadoras, resilientes, sábias e “briguentas” – muitas vezes para subsistir a uma sociedade misógina em que vivemos. Mas por trás da fortaleza, elas também são encantadoras, divertidas, criativas, vaidosas… Elas também podem ser grandes companheiras, abrigo de um amor infinito, amiga de todas as horas, irmã e filha zelosa. Tudo isso encontro nessa mulher a qual chamo de mãinha! Hoje me vejo parecida com ela, tento seguir seus ensinamentos, seus passos… Talvez seja impossível! Ela é única, ela é a minha mãinha.
Sonhos, alguns foram deixados nos caminhos, outros alcançados, como o desejo de estudar, de “ser gente”, como ela dizia conosco: meus filhos, estudem! Pobre só é gente se estudar. Com essa garra ela conseguiu ser professora. E que professora! Aquela que, com certeza, o Mestre Paulo Freire sentiria orgulho de conhecer. Seus ensinamentos estavam na prática, uma professora que fazia tudo para que seus alunos trocassem conhecimentos, aquela que valorizava a cultura popular, que era atriz, dançarina, cantora, e quantas mais, aquela que fundou a sala de leitura onde, posteriormente, transformou-se na biblioteca da escola.
“O que a vida quer da gente é coragem”, o grande mestre Guimarães Rosa traz nessa frase outra qualidade da minha mãinha. Em todos os momentos do seu caminhar ela precisou de coragem: coragem quando saiu do seu interior e partiu em busca da cidade grande, da capital do Estado, fazendo parte das estatísticas do êxodo rural no início dos anos 70. Coragem em desbravar novos horizontes, essa coragem que nunca deixou de existir na sua vontade, nos desafios que encontrou durante o percurso da vida, coragem de enfrentar o desconhecido.
O tempo, talvez o nosso principal inimigo, tenham passado muito rapidamente. Hoje os anos pesam no seu andar, no seu caminhar, mas ela continua forte, apesar dos descaminhos da vida, persiste, resiste, tenta ser feliz. E como diz o poeta “ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais, hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe, só levo a certeza de que muito pouco sei, eu nada sei”.
À minha mãinha, todo meu apreço, minha admiração, meu amor.
Meine Siomara Alcantara
MULHERIO DAS LETRAS
Coletivo literário feminista que reúne escritoras, editoras, ilustradoras, pesquisadoras e livreiras, entre outras mulheres ligadas à cadeia criativa e produtiva do livro, no Brasil e no exterior, a fim de dar visibilidade, questionar e ampliar a participação de mulheres no cenário literário.