Neste domingo, 7 de dezembro, às 15h, no Busto de Tamandaré — Tambaú, em João Pessoa, vamos nos somar ao “Levante Mulheres Vivas”: um ato nacional para denunciar a matança e todas as formas de violência contra as mulheres. Não é apenas mais um protesto, é uma resposta política e humana a uma realidade que segue matando, silenciando e marginalizando.
Os indicadores oficiais mais recentes mostram que o Brasil registrou, em 2024, entre 1.450 e 1.459 feminicídios, ou seja, uma média de cerca de quatro mulheres assassinadas por dia, apenas por serem mulheres. Esses números constam em levantamentos e relatórios oficiais consolidados no Relatório Socioeconômico da Mulher (RASEAM) e no Mapa da Segurança Pública. Embora haja variações pequenas entre fontes, a mensagem é clara: o feminicídio segue em níveis inaceitáveis.
Além dos homicídios, as estatísticas apontam para uma ampliação das formas de violência contra mulheres: lesões, estupros, descumprimento de medidas protetivas, perseguição (stalking) e violência psicológica têm crescido ou aparecem em números elevados nos levantamentos oficiais. Essas formas de violência são parte do mesmo processo contínuo que termina, muitas vezes, em morte.
Os dados estaduais e reportagens locais mostram que a violência de gênero também é uma emergência na Paraíba. Reportagens e levantamentos locais registraram, por exemplo, pelo menos sete feminicídios apenas entre janeiro e maio de 2024 em municípios do estado. Relatos apontam que outros indicadores relacionados à violência contra a mulher (tentativas de homicídio, estupros, denúncias de agressões) permanecem altos. Os anuários estaduais e os boletins de segurança alertam para a necessidade de reforçar redes de proteção e políticas públicas. As tendências e a gravidade local são evidentes: mulheres paraibanas seguem sendo vítimas de violência letal e não letal.
Misoginia: a porta de entrada para a violência
Misoginia não é sinônimo apenas de insulto é um sistema e um conjunto de práticas que naturalizam a inferiorização, o desprezo e a desumanização das mulheres. Quando uma cultura tolera o rebaixamento das mulheres, com piadas, discursos, memes, “conteúdos” digitais cria-se terreno fértil para que a agressão física, a perseguição e o homicídio pareçam aceitáveis para quem já carrega essa matriz de ódio. A misoginia atua como anteparo ideológico: descrede relatos, deslegitima resistências e transforma vítimas em “problemas” a serem apagados.
A banalização nas redes sociais e o lucro por isso
Outra face contemporânea do problema é a monetização da misoginia. Pesquisas recentes realizadas por grupos acadêmicos e divulgadas por órgãos públicos mostram que conteúdos misóginos em plataformas como YouTube alcançam bilhões de visualizações e são transformados em negócio, com anúncios, assinaturas e redes de apoiadores que financiam influenciadores que disseminam ódio, humilhação e discursos antifeministas. Esse ecossistema digital, conhecido como “machosfera”, alimenta narrativas que retiram a humanidade das mulheres e, ao mesmo tempo, gera renda para quem explora esse ódio.
No Brasil, relatórios do NetLab-UFRJ em parceria com o Ministério das Mulheres documentaram centenas de canais e dezenas de milhares de vídeos com conteúdos que propagam aversão, controle e desprezo às mulheres. São vídeos que acumulam bilhões de visualizações e milhões de comentários. Ou seja: a misoginia deixou de ser só uma atitude social para virar produto. E produto rentável.
Por que isso nos coloca em risco coletivo?
Quando o ódio contra mulheres é naturalizado e remunerado, normaliza-se também a ideia de que mulheres podem ser menos humanas, menos cidadãs e, em último caso, menos merecedoras de vida e proteção. Essa cultura alimenta a impunidade, tanto simbólica quanto material, e dificulta a atuação das redes de acolhimento, das medidas protetivas e das políticas públicas que poderiam salvar vidas.
O que o Levante “Mulheres Vivas” propõe e por que sua presença importa?
A mobilização de hoje é uma exigência por políticas públicas efetivas de prevenção e proteção (mais casas de acolhimento; ampliação das delegacias de atendimento à mulher, inclusive nos finais de semana; agilidade nas medidas protetivas); investimento em educação para equidade de gênero e prevenção desde a escola; responsabilização de plataformas digitais que monetizam discursos de ódio e amplificam a misoginia; ampliação de campanhas públicas que identifiquem sinais de risco e fortaleçam redes locais de proteção.
Ir à rua é também produzir visibilidade: cada corpo que ocupa uma praça denuncia que nós não aceitaremos a naturalização da morte de mulheres, e que exigimos ação do poder público e da sociedade.
Então, vamos todas e todos ao Busto de Tamandaré somar forças pela vida das mulheres!
Zezé Béchade
Zezé Béchade é jornalista, especialista em Gestão e Políticas Públicas, bacharela em Direito e mestra em Ciências Jurídicas-Direitos Humanos.