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Aguardar o julgamento de Deus é o desespero humano. Não creio que outros animais tenham esse medo. Se algum tiver, não será tão hediondo quanto.

Lamento informar que Deus não julga. Mesmo contrariando toda a literatura sapiencial, insisto que Deus não é Juiz em nenhum tribunal aqui ou na eternidade transcendental. E não o é por duas razões.

Julgar é comparar. Deus não compara. Não há, no divino, nada igual. Aliás, essa é a graça da divindade: tudo é novo e diferente. Não comparar é um princípio teológico para definir um pecado humano. Como julgar é comparar uma suposta matriz certa com uma conduta, que se exige assemelhada, tal ato é demasiadamente humano.

Deus também não julga, porque a sua misericórdia é infinita. Sendo infinita e graciosa a misericórdia, Deus absolve sempre. Não há pecado maior que a graça.

A fornalha que queima os maus para sempre é tanto uma concepção humana, quanto um paradoxo teológico sob o manto da graça infinita.

Deus não criou o inferno e nem o purgatório. O purgatório é um cenário no futuro de pretérito, talvez mais dolorido do que o inferno. É lá onde se passa o filme do ‘SE…’ Tanto pior: a alma assiste protagonizando, mas coadjuvada por todas as criaturas com as quais conviveu e às quais ‘se omitiu…’

Julgar é um defeito humano (criado para sobrevivência). É, em si, o pecado seminal. Portanto, purgatório e inferno são da vida humana.

No sertão potiguar, um famoso coronel costumava decidir o destino de um réu no tribunal de júri com a presença no plenário. Indo, havia interesse. Com um só olhar para o réu e para os julgadores ele definia a sentença. Sequer esperava os debates ou o anúncio posterior do veredito.

Poucas vezes, ele deixou de ir.

Na América, Jefferson costumava defender o júri como o mais democrático tribunal, porque íntimo do povo.
Se o medo é humano, há de existir um medo popular, no coletivo, que nega o paraíso.