É com profunda indignação que venho, mais uma vez, cobrar da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) e da Prefeitura Municipal de João Pessoa uma resposta concreta — e, mais do que isso, ações efetivas — em relação à vergonhosa situação dos escritores contemplados pelo Edital de Literatura Políbio Alves, lançado em 23 de março de 2021.
Já se passaram quatro anos desde o lançamento do edital, que prometia, além do prêmio em dinheiro (entregue apenas em novembro de 2021), a publicação dos livros premiados com tiragens de mil exemplares para cada obra. Contudo, até hoje, os livros permanecem engavetados, o processo de edição está paralisado, e a etapa de impressão sequer tem previsão de acontecer. Os miolos foram entregues, e depois disso… o silêncio. Um silêncio ensurdecedor, que escancara o descaso, a desorganização e o completo desrespeito com os escritores e com a literatura paraibana.
O que a Funjope tem a dizer sobre isso? Nada. A Direção não cumpre o prometido, o chefe da Divisão de Literatura, Iam Pontes se esconde, não responde às mensagens, e nenhuma justificativa plausível é apresentada à sociedade. Em fevereiro de 2023, os autores premiados publicaram uma nota pública expondo essa realidade absurda. Houve repercussão na imprensa local, nos jornais, nos sites, mas a resposta da Funjope seguiu o padrão de sempre: evasiva, protocolar, descompromissada. E os livros? Continuam mofando nos bastidores da incompetência institucional.
Essa situação é inaceitável. É um desrespeito com os escritores que confiaram na seriedade do edital, que celebraram um reconhecimento justo, e que agora convivem com a frustração de ver suas obras abandonadas. É uma afronta à cultura paraibana, que já resiste com muitas dificuldades e ainda precisa lidar com gestões que não valorizam e desrespeitam a produção artística local.
No meu caso, como autora premiada, sinto uma revolta profunda. Ano passado estive em São Paulo como autora convidada em um importante festival literário. Lá, fui tratada com respeito, com reconhecimento, dignidade e afeto. E volto à minha cidade natal para ser ignorada, humilhada, silenciada por um órgão que deveria estar ao lado de quem cria, escreve, publica e transforma com a palavra.
A gestão atual da Funjope é um atraso. Um verdadeiro desserviço à cultura da Paraíba. Os escritores não pedem favores: exigem apenas que se cumpra o que foi acordado em edital público. Prometeram livros. Prometeram publicação. E até agora, só entregaram desprezo.
Publicar esses livros é uma obrigação moral, legal e institucional. Não é favor. É dívida. E já passou da hora de ser quitada.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Diário de Vanguarda(DV)
Autoria:

MINIBIO – Anna Apolinário (João Pessoa, 1986) é poeta e escritora, Pedagoga e Mestra em Letras/Literatura pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. É produtora cultural independente, organizadora/fundadora do Sarau Selváticas desde 2017 e da Cia Quimera – Teatro & Poesia desde 2019. Seu primeiro livro, Solfejo de Eros foi publicado em 2010, em seguida vieram Mistrais (Prêmio Literário Augusto dos Anjos – Funesc, 2014), Zarabatana (Patuá, 2016), Magmáticas Medusas (Editora Cintra/ARC Edições, 2018), A Chave Selvagem do Sonho (Triluna, 2020) e Beijos de Abracadabra – poemas automáticos bilíngues (Triluna, 2023)
MULHERIO DAS LETRAS
Coletivo literário feminista que reúne escritoras, editoras, ilustradoras, pesquisadoras e livreiras, entre outras mulheres ligadas à cadeia criativa e produtiva do livro, no Brasil e no exterior, a fim de dar visibilidade, questionar e ampliar a participação de mulheres no cenário literário.