A tarde do dia 14 de outubro próximo nos reserva um show que ficará na memória. Será o dia em que Terra, Lua e Sol se alinharão no espaço, num capricho que não ocorre todos os dias. A sombra do nosso satélite vai se projetar na Terra numa longa faixa de 160 km de largura e para mais cerca de 1.800 km de um lado e outro dessa faixa, com penumbra regressiva. O eclipse se iniciará no noroeste dos Estados Unidos às 8 da manhã e segue trajetória diagonal até o Texas; passará pelo Golfo do México e América Central já quase ao meio dia, onde terá maior duração – cerca de 4 horas e período de oclusão máxima de 6 minutos – para em seguida entrar na América do Sul pela Colômbia.  No Brasil a sombra da Lua chegará pelo estado do Amazonas no início da tarde, quando já será 15:25 na Paraíba onde terá duração de mais ou menos duas horas e período de oclusão máxima de 4 minutos no sertão do estado. Essa grande diferença nos horários está relacionada aos fusos horários cruzados pela sombra do eclipse. Mas há, sim, uma diferença real do horário de cerca de meia hora entre as extremidades do fenômeno: o eclipse no nosso litoral se iniciará meia hora após ter iniciado na costa oeste americana.

Os eclipses solares são fenômenos raros, porém, mais frequentes do que pensamos. Sua ocorrência atende a ciclos regidos por leis da física e da matemática e podem ser previstos. Após muitas observações astronômicas foi possível estabelecer ciclos e padrões de sua frequência, assim como datas futuras. O “Ciclo de Saros”, por exemplo, compreende um período de 18 anos, tempo em que podem ocorrer entre 36 e 41 eclipses solares, totais ou parciais. Aqueles considerados “totais” também serão “parciais” para uma área muito maior do planeta. É correto, portanto, afirmar que os eclipses solares totais são menos comuns do que os parciais, mas o que os torna mais raros é ocorrerem muitas vezes sobre áreas despovoadas como os desertos e oceanos.

Por um capricho cíclico, a América do Sul “foi excluída” da maioria dos eclipses ocorridos nas últimas décadas, período em que houve uma frequência maior destes eventos sobre o Oceano Pacífico. Isso privou muita gente de apreciar o fenômeno que ocorre duas vezes por ano em algum lugar do Planeta. Mas para que o mesmo evento se repita, com a mesma precisão, faixa de abrangência, dia/mês/hora e magnitude, são necessários 21 longos ciclos de Saros (ou super ciclo) – aproximadamente 380 anos. Ou seja, nesse intervalo de tempo ocorrem quase 800 eclipses nos mais diversos trajetos, lugares e horários. No próximo ano ocorrerá um outro eclipse cuja trajetória fará um grande “X” com a trajetória deste neste ano, com interseção sobre o estado do Texas, no EUA. Isso quer dizer que muitas cidades daquele estado americano terão a chance raríssima de ver 2 eclipses totais no intervalo de 6 meses. Essa sequência, com mesma configuração de variáveis, só se repetirá daqui a quase 4 séculos.

 

O Sol e a Lua estão distantes da Terra na mesma proporção dos seus respectivos diâmetros e por isso seus tamanhos aparentes são o mesmo para quem os observa aqui da Terra. Porém, a distância entre eles varia. Quanto a isto, o eclipse do próximo mês tem uma particularidade: para a faixa de abrangência onde ele seria “total”, mencionada no primeiro parágrafo desse texto, ele será “total anelar” e a Lua não tomará completamente o Sol, restando um “anel de fogo” na “borda” do nosso satélite no ápice da oclusão. É que a Lua se encontrará a uma distância maior da Terra por ocasião do fenômeno.

Para muitas civilizações antigas, os eclipses seriam resultado da ira dos deuses e eram associados às desgraças: desde colheitas ruins a epidemias; de catástrofes climáticas a golpes de estado, etc. Misticismo e superstições à parte, é certo que a escuridão da Terra em horário incomum, ainda que breve, interfere no comportamento de alguns animais. No eclipse total ocorrido numa manhã de 20 de maio de 1947 no nordeste do Brasil, minha mãe conta que as galinhas subiram para o poleiro às 10 da manhã, voltando a descer meia hora depois quando o dia voltou a clarear. Desta vez o evento é no final da tarde e os galináceos subirão ao poleiro duas horas mais cedo e de lá só descerão no dia seguinte.  

Cajazeiras, na Paraíba, com seu horizonte oeste desimpedido de construções, seu céu de outubro sem nuvens e tendo a parede do Açude Grande como mirante, será um dos melhores locais de observação deste fenômeno na Paraíba, não tenho dúvida. Será um evento com apelo turístico, inclusive, já que para além de 200 km ao norte ou a sul da faixa sombreada o espetáculo não será o mesmo. Aos amigos que moram no litoral e que possam fugir de possível nebulosidade das praias, aconselho se dirigirem ao sertão no dia D. Outros pontos que considero estratégico para observação do eclipse na Paraíba são: Pico do Jabre em Teixeira/Matureia, Serra de Santa Luzia e Pedra da Boca em Araruna. Para quem vai ficar em João Pessoa, as ladeiras do Centro Histórico oferecem os melhores horizontes.