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Se a diferença nos níveis de ensino entre as escolas pública e privada é também um problema de estrutura, essa distância tem aumentado com o advento da informática, cujos recursos chegaram há mais tempo no cotidiano do ensino particular; o que só mais recentemente ocorreu nas escolas públicas do país. A utilização da internet em sala de aula é cada vez mais comum, mas passou a ser uma preocupação na medida em que essas ferramentas não se fazem acessíveis de forma semelhante nos sistemas público e privado. Outro problema a se enfrentar à essa altura é como lidar com essas novidades tecnológicas que chegam ao mesmo tempo para gerações tão distintas quanto professores e alunos. Mas é justamente na tecnologia e nas suas aplicações em didática que residem a solução para se amainar o abismo que separa essas duas realidades da educação brasileira. Claro que a utilização prática dessas ferramentas passa pela requalificação constante do corpo docente das escolas públicas, onde a informática, para muitos, ainda é um bicho papão, além do fato de estar em constante atualização.

A utilização da mídia em sala de aula representa ganhos de tempo e qualidade da informação por contar com o uso da imagem, imprescindível na demonstração de alguns exemplos e aplicações práticas. Nesse ponto, a questão reside no domínio dessas “novidades” do mundo digital no ambiente da escola pública, cujas mídias, contemplam cada vez mais os conteúdos didáticos – uma tendência universal e de caráter irreversível. É preciso tornar o computador ou o smartphone e seus aplicativos um parceiro eficiente na tarefa de comunicar e ensinar. São inúmeras as possibilidades de utilização da internet e as escolas precisam e devem explorar a tecnologia e mostrar ao jovem que o celular é muito mais do que o WhatsApp ou Tik-Tok.

Importante lembrar que o computador aqui é um instrumento a mais. O professor é – como não pode deixar de ser – o ator principal, responsável pelo ensino e formação do estudante. Quando defendemos sua requalificação no sentido de dominar alguns recursos de informática, partimos do pressuposto de que ele já detém o conhecimento necessário na sua área. Sob esse aspecto, a capacitação do quadro docente visando incluir de vez as escolas públicas no mundo digital, não pode ocorrer, sob qualquer hipótese, em prejuízo da formação docente para a qual foi habilitado. Qualquer que seja a área do conhecimento a ser explorada na formação dos professores, deverá haver a preocupação com a atualização da comunicação, da linguagem em sala de aula e sua eficácia, buscando a sintonia entre as mudanças exteriores, onde o jovem está inserido, com o universo escolar, e isso inclui a mídia. A tendência é que a cada dia, essa comunicação se torne mais clara e efetiva a partir dos recursos viabilizados pela “revolução digital” e que se faça da máquina uma aliada na busca da equalização e aproximação no nível de ensino entre o universo público e privado da educação.

A diferença entre essas duas realidades do ensino ficou escancarada durante a pandemia da COVID-19. O ensino à distância se mostrou ineficiente e pouco produtivo no sistema público, seja pela precariedade de equipamentos, despreparo dos profissionais ou pelas condições econômicas da maioria dos alunos. O prejuízo é irreversível no aproveitamento escolar dos alunos da escola pública durante o malfadado período do EAD, principalmente quando comparado com o dos alunos da rede privada. E não se trata apenas de capacitação. Esta continua sendo imprescindível. A educação, a didática como um todo, necessita rever técnicas de ensino e abordagem. A escola precisa ser mais atrativa e efetiva ao mesmo tempo. O encantamento do jovem de classe baixa e média baixa pela sala de aula precisa voltar. A escola pode e deve resgatar seu protagonismo como supridora de conhecimento e vanguardista na arte de ensinar, e não ser atropelada pela tecnologia como temos visto.

A única forma que vejo de evitar que isso ocorra é a escola pública aderir de vez ao universo digital, adotando oficialmente a tecnologia, nas mãos do seus próprios alunos em seu favor, e com mais intensidade. Se a escola oficial não acompanha o mundo midiático em todos os seus aspectos, ela se torna pouco atrativa ao jovem, encantado que está com o mundo digital. É preciso tornar a escola pública mais atraente ao estudante que hoje tem o mundo ao seu alcance num smartphone. Falta ainda reconquistar esse aluno e mostrar-lhe que a escola é a protagonista no repasse de conhecimento e instituição imprescindível para sua formação.

O modelo de escola tradicional, na qual fomos forjados e cuja essência ainda se mantém, necessita de reinventar-se. Com essa pulverização do conhecimento e acessibilidade dos jovens aos conteúdos on-line de forma generalizada, muita informação fragmentada lhes chega antes mesmo da sala de aula, e até de forma mais divertida e interativa. Nesse caso faz-se necessário alertar o jovem para o desenvolvimento de postura crítica quanto a credibilidade e veracidade destes conteúdos, assim como de mecanismos de controle, para que a prática do “copia e cola” não se torne corriqueira, e, pior, não seja propagadora de fake news. Seria trágico se a informática viesse a ter o efeito nefasto e irônico de nivelar por baixo a formação de toda uma geração de estudantes que cresceu em contato com o mundo digital.