No frio elegante da Serra Gaúcha, a 53ª edição do Festival de Cinema de Gramado reafirmou sua posição como um dos mais significativos palcos do audiovisual brasileiro. De 13 a 23 de agosto de 2025, o Palácio dos Festivais acolheu não apenas filmes, mas também debates, afetos, provocações e, como sempre, Kikitos.

O grande vencedor da noite foi Cinco Tipos de Medo, de Bruno Bini, que arrebatou quatro prêmios: Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Montagem e Melhor Ator Coadjuvante, este último entregue ao rapper Xamã, que fez sua estreia cinematográfica com notável presença cênica. O longa, uma dissecação psicológica da angústia moderna, revela um país fragmentado e emocionalmente sitiado e o faz com maturidade formal e fôlego dramático.

Outro destaque incontornável foi , de Laís Melo, que levou os Kikitos de Melhor Direção, Melhor Fotografia(Renata Correia) e o prêmio da Crítica. É um filme de silêncios, com uma mise-en-scène que pulsa como a memória: cheia de cicatrizes e beleza crua.

Papagaios, de Douglas Soares, revelou-se um fenômeno popular e técnico: ganhou o Prêmio do Júri Popular, Melhor Ator(Gero Camilo), Melhor Direção de Arte (Elsa Romeiro) e Melhor Desenho de Som, confirmando-se como uma obra de potência sensorial e acessibilidade narrativa.

Na seara feminina, Malu Galli brilhou com intensidade rara ao conquistar o prêmio de Melhor Atriz por Querido Mundo, enquanto Aline Marta emocionou o júri como Melhor Atriz Coadjuvante em A Natureza das Coisas Invisíveis, filme que também levou Melhor Trilha Sonora (Alekos Vuskovic) e o Prêmio Especial do Júri.

A Menção Honrosa foi concedida ao delicado Sonhar com Leões, de Paolo Marinou-Blanco, prova de que o lirismo ainda tem espaço em um cinema frequentemente tensionado pelo realismo cru.

Gramado foi, mais uma vez, um espelho da pluralidade brasileira. A presença de produções gaúchas na Mostra SEDAC, os troféus dados a veteranos e jovens estreantes, e a transversalidade estética das obras em competição mostram que o festival busca, a cada edição, um equilíbrio entre a consagração e a descoberta.

E o Kikito, esse Deus do bom humor, parece rir com ironia lúcida: ele sabe que o cinema brasileiro, apesar das intempéries econômicas e políticas, segue criando com coragem.