Atiçando o faro da memória, posso dizer que meu primeiro livro Solfejo de Eros (CBJE, 2010), antes de nascer em páginas, nasceu nos palcos, em corpo e voz, verve e canto, através da performance do poema Dédalo, apresentada na VI Edição do Festival de Poesia Encenada do Sesc PB (a edição homenageou Clarice Lispector), em maio de 2010. Naquela noite, meu poema Dédalo foi performado brilhantemente, selvagemente pela atriz Anna Raquel Apolinário, a performance foi premiada conquistando o 4ª lugar do festival. O cachê da premiação obtida auxiliou no custeio da publicação de Solfejo de Eros, livro que reúne Dédalo e mais outros 50 poemas, cujo lançamento aconteceu em outubro de 2010.

A partir deste primeiro encontro entre verso e cena, a poesia segue vingando em pele e canto, movimento e metamorfose, em junho de 2013, mais uma performance foi apresentada na X Edição do Festival de Poesia Encenada do Sesc PB: Desabotoando Pagu, poema do livro Mistrais ( Prêmio Literário Augusto dos Anjos –FUNESC, 2014), desta vez, ao som do músico Fabiano Formiga, a atriz Anna Raquel Apolinário e a bailarina Nady Costa, estavam em cena, trazendo a fúria e o fogo paguniano ao palco da Usina Cultural Energisa. Em maio de 2014, também no Festival de Poesia Encenada do Sesc, a performance do meu poema Kaluanã, criada e dirigida por mim, encenada por Juliana Aquino, foi apresentada com verve e paixão no palco do teatro do Sesi e Aquino levou o Prêmio de Atriz Revelação. O poema Kaluanã está publicado em meu livro Zarabatana (Patuá, 2016).

Todo este caminho cênico-poético, esta paixão pela palavra encarnada no corpo, alimentada desde 2010, culmina na criação da Cia Quimera – Teatro & Poesia, em 2019. A Cia propõe o diálogo entre linguagem poética,linguagem cênica e audiovisual, através da composição de narrativas híbridas, transitando entre performance, videopoema e poesia encenada, por meio da fusão alquímica entre experiência lírica e fluxo imagético. Quimera explora as potencialidades do corpo e da linguagem em profusão multiforme, movimento poético traduzido em partituras sensoriais: voz, potência, pulsão, metamorfose da verve, corporeidade do verso em paleta de sensações inebriantes. A trupe é idealizada pela poeta e escritora Anna Apolinário, reunindo a atriz Anna Raquel Apolinário, o ator e diretor Léo Santiago e o fotógrafo Nielson Lourenço em diversas produções artísticas.

Um dos projetos da Quimera, é a adaptação do livro de poemas A Chave Selvagem do Sonho (Triluna, 2020), de Anna Apolinário para o audiovisual. A proposta A Chave Selvagem do Sonho – Poesia em performance, foi contemplada pela Lei Aldir Blanc em 2020 e inclui a criação de cinco produções audiovisuais referentes à cinco poemas do livro: “Insídia”, “10”, “Maria e a Sibila”, “Os mapas flamejantes da fome” e “Meus chinelos distribuem velas aos navegantes sonâmbulos”. A equipe técnica que atuou na produção é composta por: Anna Apolinário como proponente e autora dos poemas, a atriz Anna Raquel Apolinário no elenco, a direção de fotografia a cargo de Bruno Vinelli, direção de arte sob o comando de Evandro Oliveira, Léo Santiago na edição e Nielson Lourenço no apoio técnico e fotografia. O projeto contou também com o trabalho de maquiagem e cabelo de Katheryne Menezes e os figurinos produzidos pelo M3 Ateliê, de Maria José Rodrigues.

Um dos objetivos do projeto é proporcionar a apreciação do universo poético e surrealista através de uma sensível construção verbovocovisual, criando um rico diálogo interartes que culmina no fortalecimento das expressões artísticas contemporâneas em ascensão na Paraíba. Os videopoemas produzidos estão disponíveis no canal da Cia Quimera no Youtube e também no perfil do Instagram: @cia.quimera.

Em setembro de 2021, a Cia Quimera apresentou a performanceQuando respiras eu sinto a imensidão do teu sonho dentro de mimno Festival Barril de Culturapromovido pela Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) e Centro Cultural Casa da Pólvora, integrando uma mostra de 28 projetos aprovados em edital para ocupação do espaço, com apresentações de dança, exposições, saraus e artes visuais. Ainda em 2021, a Cia Quimera apresentou o experimento performático Vênus Vulcânica no Sarau Eros Criptossensorial na Casa Cultural Recriar, em João Pessoa.

A próxima apresentação da Cia Quimera é a performanceEu sou a mulher que mordeu a mãos do Impossível contemplada no novo Edital da Ocupação da Casa da Pólvora promovido pela Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), a Cia Quimera aguarda calendário com datas para apresentação ainda em 2023, juntamente com outros artistas premiados no edital. A proposta é trazer poemas surrealistas automáticos do livro Beijos de Abracadabra (Triluna, 2023, no prelo) interpretados por Anna Raquel Apolinário, com direção artística de Anna Apolinário e Léo Santiago. Esta nova aventura criativaevoca/invoca a essência poética e a potência imagética dos arquétipos femininos em criação performática, raízes do delírio pinceladas por nuances e insights cênicos encantatórios, desvela um universo surreal e místico, em que as bruxas confabulam a alquimia do verbo, magia e mistério reverberados através de vozes ancestrais, sábias e poderosas.


[Anna Apolinário
é poeta, pedagoga, mestranda em Letras (UFPB/PPGL), produtora cultural independente, organizadora do Sarau Selváticas, fundadora da Cia Quimera. É autora de vários livros de poesia, os mais recentes são: A Chave Selvagem do Sonho (Triluna, 2020),Beijos de Abracadabra (Triluna, 2023, no prelo), Bruxas sussurram meu nome (Prêmio Políbio AlvesFunjope, 2023, no prelo)]