O documentário “As noites poéticas do Cafofo” está pronto para correr o mundo. O filme é a síntese de uma ação cultural continuada e muito ampla que já completa onze anos. A história contada se passa na bela residência do Professor, poeta e historiador Siéllysson Francisco da Silva, na cidade de Santa Rita.
Aos poucos Siéllysson foi transformando sua morada num cenário de cinema. Aliando elegância e boas escolhas para a decoração, não por acaso chegou num design retrô de muita singularidade e sensibilidade. Paredes de tijolos expostos dizem muito da fruição e dos desnudamentos que os frequentadores experimentam em cada edição do sarau.
Difícil definir um sarau em poucas palavras. Os formatos são absolutamente autônomos e diversos. Alguns acontecem nos bares, como o que é organizado pelo poeta Quelino Sousa no Café da Usina, da Usina Cultural Energisa. Todavia me refiro ao legado de uma tradição europeia que embarcou nas caravelas portuguesas e se espalhou pelo Brasil há muito tempo.
Foi a tradição francesa, mais especificamente, que abriu portas nas residências. Como o “Sarau dos poetas vivos” que ocorre na casa da poeta, jornalista, cantora e professora Fidélia Cassandra, em Campina Grande. Um acontecimento que reúne artistas e escritores da Serra da Borborema e do mundo.
Há mais de uma década, na terceira cidade mais populosa do estado, também acontece um sarau na melhor tradição francesa. Os convidados compartilham boa música, poesia, performances e muito acolhimento.
São trocas que se multiplicam e aproximam pessoas. Uma história que foi se construindo sem qualquer apoio oficial. Já está no seu décimo primeiro ano e começa a disputar editais para ganhar as ruas.
Uma caminhada de muito sucesso que está na memória afetiva de muita gente. Ano passado virou livro para celebrar os primeiros dez anos. Semana passada as dependências do Sindicato dos Funcionários Públicos Municipais de Santa – SINFESA, estiveram lotadas para o lançamento do documentário contando a história do sarau. Uma obra que deverá percorrer seus próprios caminhos.
O Sarau do Cafofo recebeu uma bem cuidada produção audiovisual e virou “coisa de cinema” nas mãos dos produtores Rony Nascimento e Rafael Castro, da Santa Rita TV. Num ambiente amistoso, Siéllysson reuniu intelectuais, docentes, artistas da cidade e convidados. De certa forma reproduziu o Sarau do Cafofo que brevemente dará mais um passo deslocando-se para uma praça pública.
O documentário vai seguir seu destino disputando festivais de cinema. Levará pelo mundo uma história bonita que, por aqui, permanecerá buscando os melhores formatos para oferecer ao público uma opção vigorosa de arte, cultura e boas trocas humanas. Mais do que isso, o documentário nos mostra que não apenas de grandes eventos, reunindo multidões, vive a cena cultural da Paraíba.
Sem buscar visibilidade midiática, Siéllysson foi construindo tijolo por tijolo uma ação cultural viva que fomenta uma cena local diversa, autônoma, educativa. Ele sabe e sente que sua ação é cada vez mais coletiva. Cada vez mais intimista também, representa o potencial de ações construídas fora do eixo das grandes produções. O Sarau do Cafofo é pura partilha e agora virou “coisa de cinema”.
Lau Siqueira
Gaúcho de Jaguarão, mora em João Pessoa desde os anos 1980. Escritor, poeta e cronista, tem diversos livros publicados, participou de antologias e coletâneas. Ex-secretário Estadual de Cultura da Paraíba.