Como é rápido o tempo. Parece que foi ontem que nos despedimos de Dominguinhos. Um ano de lembranças e de eternas saudades.
É impressionante! Não precisamos ouvir o som de sua sanfona ou a voz que acalmava nosso espírito para sentir sua presença.
Era mortal, e, como tal, incorria em erros. Mas, o seu jeito de ser, sua simplicidade, sua paciência e sua bondade estava acima de qualquer falha que tenha cometido durante sua passagem por essa vida.
Dominguinhos era uma nascente de coisas boas. Encontrá-lo era sempre sinônimo de vivenciar momentos de paz e de beber na verdadeira cultura nordestina.
Homem de poucas palavras, contudo, seu olhar e suas atitudes diziam mais do que qualquer fala. Com a sanfona no peito, era príncipe dos acordes. O som aflorava com uma suavidade inigualável, tanto que todos ficavam silentes, ouvindo a majestade dedilhar a pureza da musicalidade.
O filho do baião era autodidata. A genialidade fazia com que sua capacidade artística ultrapassasse os umbrais da música regional nordestina.
Jamais poderá ser visto como um artista exclusivamente atrelado ao mundo do baião, do forró e do xote. Seu instrumento passeava por muitos ritmos, e com uma qualidade que chamava atenção.
Quando abria a sanfona, acompanhava e criava músicas como ninguém. Foi assim até o último instante de sua lucidez.
Apesar da sua versatilidade, de sua habilidade e de ser um artista reconhecido mundialmente, ele não cansava de render homenagens ao seu pai musical, Luiz “Lua” Gonzaga. Uma demonstração de humildade e reverência ao seu mestre maior.
Toda estrada que corta o Nordeste, que atravessa o país, tem o rastro das sandálias de Dominguinhos. Por elas, ele viveu sua vida musical itinerante e descobriu que: “Amigos a gente encontra / O mundo não é só aqui / Repare naquela estrada / Que distância nos levará / As coisas que eu tenho aqui / Na certa terei por lá…” Em cada curva dessas veredas ainda ecoam suas canções.
Quando vejo uma sanfona, logo me vem a recordação. Era dia de 13 de dezembro de 2012, Parque Aza Branca, Exu.
Foi naquela noite do centenário do Gonzagão que o vi pela última vez. Chegou com Paulo Wanderley. Olhei para ele, e disse: – “Dominguinhos, todas as vezes que te vejo, você me transmite uma paz enorme”. Com um sorriso franco e com uma voz mansa, respondeu: – “Doutor, eu sou apenas um sanfoneiro”. Subiu no palco, abriu a sanfona e cantou com João Silva e Taísa. Ainda o ouço dizendo ao controlador da mesa de som: – “Bote uma besteirinha de sanfona, um tostãozinho só”.
Eita saudade! Viva Dominguinhos!
Onaldo Queiroga
Juiz da 5ª Vara Cível de João Pessoa e ocupa o cargo de juiz auxiliar da presidência do Tribunal de Justiça da Paraíba. Ingressou na literatura com o livro Esquinas da Vida e prosseguiu com Baião em Crônicas, Reflexões, Por Amor ao Forró, Crônicas de um Viajante, Meditações, Monólogos do meu Tempo; Efeitos, Homíneos e Naturais. Gonzagólogo - conhecer e colecionador da obra de Luiz Gonzaga.