
Não era exatamente de uma figura como Donald Trump na presidência dos EUA que o mundo precisava agora. Com sujeitos divisionistas, sectários, de discursos nacionalistas, no poder, o mundo já lidou e o resultado todos sabem. Embora isso não queira dizer que tudo volte a acontecer como no século passado, as consequências nefastas de políticas ortodoxas, permeadas de bravatas inconsequentes, são inevitáveis, e quem paga a conta são sempre os mais vulneráveis, sem meios de se defenderem, seja na mídia, seja fazendo sua feira.
Estaria o aristocrata bilionário, que cresceu num mundo capitalista liberal, de livre mercado, travestido de protecionista, negando sua formação e o meio em que foi forjado? Ou seria Donald Trump um protecionista nacionalista, disfarçado de liberal o tempo todo e ninguém sabia? É curioso, pois, Trump fez fortuna num ambiente de política econômica liberal e não num mundo semelhante ao que ele parece apontar no seu segundo governo. Estaria o recém eleito Presidente americano sendo incoerente, conveniente e oportunista, ou simplesmente sendo ele mesmo? Dúbio!
Enquanto refletimos sobre essas indagações encaremos a realidade. Donald Trump está de volta, é fato, e o mundo que lide com isso. O “cara de goma” voltou, não sem antes, porém, preparar todo o campo econômico e político aos seus interesses. E com todo o poder de formar opinião que detém – além de muito dinheiro para especulação – manipular o mercado financeiro e a mídia ao seu favor não lhe exigiu muito esforço. Trump, em campanha, não cansou de opinar favoravelmente às críptons moedas, enquanto preparava um grande lastro financeiro para alavancagem e investir em sua própria moeda eletrônica, a “Trump Coin”: eleito Presidente e tendo embolsado os bilhões com a especulação, ele agora arrefece seu discurso (para decepção de tantos fanáticos discípulos seus) à espera da hora certa para surfar mais uma vez na crista da onda. Por outro lado, ao tempo que espalha o terror entre a comunidade hispânica, ameaçando deportar todos os imigrantes em situação irregular, o “engomado” também sinaliza taxar as importações (o que o mundo exporta para eles) em nome de uma “América para os americanos”, numa clara medida protecionista que vai de encontro à cartilha liberal em que foi forjado. E, por terem os EUA 1/4 do PIB mundial, o que é feito (ou simplesmente dito) por lá, o resto do mundo sente os efeitos, e não são exatamente os ricos como ele que pagam a conta.
O recém eleito presidente dos EUA parece mais um fanático, mas há quem esteja gostando da sua volta ao Poder. Vladimir Putin, em 2016, apoiou indireta e discretamente a eleição de Donald Trump à Casa Branca. Putin não gostava da boa sintonia entre os presidentes Democratas americanos e a Alemanha de Ângela Merkel. Corroborar com os perfis falsos na internet e impulsionar fake news e mensagens fora de contexto favoráveis a Trump, foi uma forma que Moscou encontrou de ajudar a tirar os Democratas do poder em 2016 e anular o prestígio destes na Europa. Funcionou, infelizmente. Para Putin, que já havia se posicionado antes contra os candidatos simpáticos aos olhos do Ocidente, interessava e interessa sempre uma Europa perplexa, apreensiva e preocupada com a política de um fanático na Casa Branca disposto a chutar o balde e causar pânico. Para quem tira proveito de um mundo em tensão, Donald Trump é a pessoa perfeita.

Dermival Moreira
É bancário aposentado, com Licenciatura em Geografia na UFPE e é autor de “Identidade e Realidade – artigos e crônicas”.