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O calor neste ano de 2023, principalmente nos dois últimos meses, tem dado o que falar não só no Brasil como em todo o mundo. A média das temperaturas globais está realmente maior, mas se formos falar de desconforto ou sensação térmica é necessário que falemos de outro fator: a umidade.

Vocês acham que a umidade aumenta ou diminui a sensação de calor? Apesar de o assunto ter caráter científico, eu diria que há um pouco de subjetivismo e de relatividade nisso, até porque a palavra “sensação” assim pressupõe. Tecnicamente falando, a umidade seguida de chuvas diminui o calor, mas até que chova, a umidade que antecede a chuva aumenta, sim, a sensação de calor. Mas pensamentos contrários devem ser considerados e são justificáveis. Em latitudes maiores (mais distantes do equador terrestre), o clima é mais ameno, chove pouco e o aumento da umidade em qualquer época do ano aumenta em muito a sensação de calor.

Por outro lado, nos ambientes tropicais, predominantemente quentes, com período de seca bem definido e tão longos quanto o período chuvoso, ocorrem fenômenos que nos confundem quanto às sensações do nosso conforto ou desconforto térmico. Nesses lugares é comum se associar tempo chuvoso ao frio e tempo seco com o calor, quando uma coisa não está necessariamente ligada à outra. Aliás, na maioria dos lugares mais habitados do planeta, tempo seco coincide mais com o inverno que é frio, e tempo úmido com o verão que é chuvoso com seu típico calor “abafado”. O que ocorre em lugares de clima quente como o Brasil, é que a chuva tem o poder de amenizar o forte calor e daí a confusão em se associar chuva ou umidade ao frio. Para reforçar isso, no nosso clima semiárido do Nordeste onde, de setembro a dezembro, o tempo é bem seco e quente, as pessoas logo associam o período seco ao calor. Mas experimente fazer uma caminhada de 2 km ao sol de 32 graus, com tempo úmido – entre 70 e 80% de umidade relativa – em João Pessoa, por exemplo – e faça a mesma coisa sob um sol de 36 graus com umidade entre 30 e 40% em Cajazeiras e veja em qual situação você sentirá mais calor ou se sentirá mais desconfortável. Aposto que será sob a umidade de 80% do litoral, embora a temperatura do ar esteja 4 graus abaixo em relação à nossa cidade do sertão.

Tenho minha própria experiência. Certa vez eu estava em Florianópolis – que fica numa ilha muito úmida – caminhando pelo centro da cidade. Após perambular 2 ou 3 horas, já me sentia muito desconfortável com o suor. Minha roupa estava encharcada e procurei um termômetro de rua para ver que calor era aquele. Não acreditei quando vi o termômetro marcando 29 graus. “Tá quebrado!”, pensei. Encontrei outro termômetro, e ‘tava’ lá, 29 graus também. Era fevereiro, quando a umidade na capital catarinense é muito alta e passa dos 80%. Então lembrei que tempos atrás eu tinha lido um artigo na revista “Seleções” intitulado, “Não é o Calor, é a Umidade”, explicando o desconforto no verão na costa leste americana, muito úmida.

Anos depois, já em Cuiabá, em situação climaticamente oposta, passei mais uma vez pela experiência: No dia em que fui registrar minha filha era mês de setembro. Saí da maternidade no meio da tarde, sob um sol de 37 graus e caminhei mais de 1 km até o cartório (pensando que era mais próximo). Estava muito quente, mas o desconforto não era tanto e a relativa sensação de calor não correspondia àquela temperatura. Porém, a umidade do ar em Cuiabá em setembro é baixa e oscila entre 20% e 40% e isso é coerente com a ciência e com o que eu já havia lido e também experimentado de forma oposta em Florianópolis. É científico, mas a confusão que as pessoas fazem quando o assunto é sensação térmica faz sentido e eu entendo. A explicação está no fato de que no ambiente úmido nosso suor não evapora (não evapotranspiramos) e encharca a roupa toda, aumentando nossa sensação de calor ou o desconforto. No ambiente seco, ainda que esteja, ou seja mais quente, é comum as pessoas falarem que não transpiram. Transpiram sim, até mais, apenas todo o suor evapora e não nos sentimos “pegajosos”, (a roupa não fica molhada com o suor) e não nos sentimos tão desconfortáveis quanto no ambiente úmido.

Morei em Cuiabá 9 anos e o clima de lá é de dar nó até mesmo em cientista. Num espaço de uma semana a temperatura pode variar 30 graus; assim como a umidade, que oscila entre 15 e 85% ao longo do ano. Eu vi, e senti. É o lugar com a maior amplitude térmica do Brasil e um dos poucos lugares do mundo onde as maiores temperaturas são verificadas nos dias secos da primavera e não no verão, cuja umidade traz chuvas e ameniza o calor. Então, é muito comum o cuiabano também associar calor à seca. Mas, aos 40 graus meus amigos, qualquer chuva é bem vinda e qualquer confusão conceitual com relação ao clima e seu desconforto, perdoada.