O Mecenas era anônimo ao público. Salvo alguns amigos mais próximos, sua lembrança se limitará ao poder ou a análise dele, via o fuxico da notícia política.

Eu o conheci repórter imberbe, lá pelos idos dos anos 80, numa entrevista, com o cônsul do Japão, na casa do primo Saldanha, então vereador em João Pessoa. Notei-o diferente, pela velocidade com que captava a informação.

Com esse repórter, eu convivi por um bom tempo, especialmente na Assembleia Legislativa.

De lapsos em lapsos, dividimos uma madrugada do Gambrinus (Um ponto histórico da Parahyba, na orla de Tambaú). Ouvíamos Dedé, ao Sax, Fernando Aranha, piano, Valtinho, Acordeon. Orlando Gonçalves, com um refino encantador, cantava o desafio musical de Noel e Wilson Batista. Nós outros gastávamos conversas e curiosidades sobre o cancioneiro brasileiro, até que alguém chegou com um violão. Um bom violonista não toca no instrumento, ele é um ventríloquo. E assim o Mecenas interpretou o violão, num diálogo em que as vozes da música e do corpo, em ondas sonoras, eram divinais, dispensando a palavra. Oscar e Neto, meus irmãos, estavam comigo, e se tomaram de um silêncio de eco profundo.

A partir daí, eu via o Mecenas como um virtuoso. O repórter sucumbira ao músico.

De Brasília, eu soube dele comandando um programa político, numa rádio na Parahyba, com muita audiência, e que ele adotara um epíteto popular para chamar a atenção. Eu não conseguia vê-lo assim.

O Mecenas era um virtuoso, que falava com o violão – ou melhor: fazia o violão falar, num lance hermenêutico só deles.

Ele soube que o meu filho era músico e quis falar com ele. Eu fiz a ponte e eles se falaram. O Maestro Ely ainda fala que recebeu do Mecenas um primoroso conjunto de partituras insuperável até hoje. Trocaram figurinhas e marcaram um encontro que não foi possível.

Nós 30 anos da Constituição da Paraíba, ele, como repórter, me procurou, para uma entrevista sobre o meu trabalho à época da elaboração do documento. Marquei numa lanchonete, onde eu costumava degustar um açaí, e ele chegou com a esposa. Fizemos a entrevista, que foi publicada no seu ‘blog’.
Foi a última vez que o vi.

Na entrevista, ele me falou que estava dedicado a formar jovens músicos em sua cidade, e que todo o seu tempo seria dedicado a esse projeto, já em andamento e com revelado sucesso.

Eu falei que havia trabalhado para um político na cidade dele, e que desejava muito o progresso e a continuidade nesse projeto.

Ontem, Wellington Farias despediu-se de Eloise Elane e da família, mas deixou esse legado de um silencioso mecenato franciscano, em tom maior.

Obrigado, Maestro.
‘Da capo!’