“Os sonhos não envelhecem” e a esperança tem nome, data e endereço. Na próxima quarta-feira, dia 18, às 14 horas, no Plenário da Câmara Municipal de João Pessoa acontecerá uma Sessão Especial. Uma ação parlamentar do Vereador Marcos Henriques (PT) para discutir a situação delicada de um teatro paraibano fundado em 1995e que foi colocado à venda.
Falamos do Teatro Ednaldo do Egypto e não nos cabe discutir particularidades. É fácil compreender a dificuldade de uma pessoa ou família sem tantas posses para manter um teatro. “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, como diz Caetano. Os motivos da família não são de interesse público, mas a preservação do teatro, sim. Como diz Pedro Dória, “este é o ponto de partida”.
Esta não foi a primeira crise. Em 2007 eu dirigia a FUNJOPE e fui procurado por Fabiano, filho do ator. Estava difícil manter o sonho do pai. Na época,intermediamos um convênio com a Educação que ainda hoje se mantém. Porém o jogo mudou. Algo precisa ser feito para não sepultarmos Ednaldo do Egypto pela segunda vez. Agora, sem o seu corpo, sepultaríamos seu sonho de uma vida inteira e a memória de tantasproduções.
Lembrei do teatro Leopoldina, em Porto Alegre. Por láassisti muitos espetáculos entre os anos 70 e 80. Foi ondeconheci Pedro Osmar e Cátia de França tocando com Zé Ramalho no lançamento do LP Avohay. O teatro Leopoldina não existe mais, assim como tantos outros. Inicialmente virou teatro da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre e recentemente soube que o prédio será demolido.
Felizmente a Prefeitura reviu sua postura e já começou uma negociação com os proprietários. Uma negociação que, pelo que sei, está diante de um impasse. Valores que não valem o que não tem preço interferem nos encaminhamentos. Mas não se fala mais em transferir atividades. Reconhecemos que há uma vontade que precisa de força.
O Teatro Ednaldo do Egypto, todavia, não é responsabilidade exclusiva da Prefeitura. O Governo do Estado, assim como o Governo Federal que agora tem uma Delegacia do MinC em João Pessoa, devem entrar nessedebate. É uma questão política, mas não uma disputa política. Algo que se pode resolver com diálogo, bom senso e investimento.
Quem sabe um consórcio e a criação de uma fundação? Isso facilitaria os convênios, por exemplo. A porta das possibilidades está aberta e o vereador Marcos Henriques teve sensibilidade suficiente para perceber a grandeza desta luta. Não seriam apenas os cofres da prefeitura, mas os do Estado e quem sabe de um banco estatal.
A Sessão Especial deve abrigar propostas e apontar encaminhamentos. O fato é que precisamos firmar uma aliança ampla para que o debate democrático possa construir a solução desejada. Afinal, onde os espaços de arte e cultura desaparecem, a barbárie prospera.
A atriz Letícia Rodrigues, diretora do teatro, falou algopreocupante: “quem segura as vigas do teatro é Ednaldo do Egypto”. Fundado em 1995, o teatro nunca teve uma manutenção adequada. Precisa mesmo é de restauração.Algo que que mantenha suas características arquitetônicas. Afinal, tudo ali tem um imenso valor simbólico.
Fernando Teixeira me disse que Ednaldo escolhia pessoalmente as peças de decoração. Essas memórias não têm preço. Sim, há esperança e vamos lutar pelo que nos parece justo e intransferível. Esta Sessão Especial será um momento histórico que vai unir os diferentes em torno de um patrimônio da cidade. No mais, já sabemos como morrem os teatros. Por isso, viva o Teatro! Viva a memória de Ednaldo do Egypto!
Lau Siqueira
Gaúcho de Jaguarão, mora em João Pessoa desde os anos 1980. Escritor, poeta e cronista, tem diversos livros publicados, participou de antologias e coletâneas. Ex-secretário Estadual de Cultura da Paraíba.