A protagonista de “Ainda Estou Aqui”, Fernanda Torres, conquistou seu primeiro Globo de Ouro ao vencer na categoria de melhor atriz em filme de drama, consolidando sua posição como forte concorrente em premiações. Torres, de 59 anos, aparentou estar surpresa ao ouvir seu nome e optou por um discurso breve. Ela competiu com atrizes renomadas como Pamela Anderson (“The Last Showgirl”), Angelina Jolie (“Maria”), Nicole Kidman (“Babygirl”), Tilda Swinton (“The Room Next Door”) e Kate Winslet (“Lee”), sendo considerada uma escolha inesperada frente a tantas celebridades e ícones da indústria.
No drama político, Fernanda Torres interpreta Eunice Paiva, uma mãe que enfrenta o luto pelo desaparecimento forçado de seu marido, o ex-político de esquerda Rubens Paiva, durante a ditadura militar no Brasil. Sua vitória é histórica, já que Torres é a primeira atriz brasileira a receber o prêmio de melhor atriz em filme de drama. A conquista também tem um significado especial porque sua mãe, Fernanda Montenegro, foi indicada na mesma categoria em 1999 por “Central do Brasil”, filme que também rendeu a Montenegro uma indicação ao Oscar. Em “Ainda Estou Aqui”, Montenegro, agora com 95 anos, interpreta a versão mais velha de Eunice.
O filme teve sua estreia no Festival de Cinema de Veneza, onde venceu o prêmio de melhor roteiro. Desde então, foi reconhecido como um dos cinco melhores filmes internacionais pelo National Board of Review e recebeu outra indicação ao Globo de Ouro na categoria de melhor filme estrangeiro. Além disso, “Ainda Estou Aqui” foi escolhido como representante do Brasil na disputa pelo Oscar de melhor filme internacional. Durante seu discurso, Torres mencionou brevemente “tempos difíceis”, sem entrar em detalhes, mas os criadores do longa destacaram que a narrativa do filme ganha novas camadas de significado após os eventos da insurreição de 6 de janeiro nos Estados Unidos e os tumultos de 2023 no Brasil, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram prédios governamentais após alegações infundadas de fraude eleitoral.
Algumas palavras do discurso de vencedora
“Meu Deus, eu não preparei nada porque já estava atrasada”, Torres admitiu do palco do Beverly Hilton em Los Angeles. “E este é um ano tão incrível para performances femininas. Há tantas atrizes aqui que eu admiro tanto.”
Sobre sua mãe
“Ela esteve aqui há 25 anos, e esta é a prova de que a arte pode perdurar pela vida, mesmo em momentos difíceis como este”, disse Torres sobre sua vitória. Ela acrescentou que “Ainda estou aqui” é um filme “que pode nos ajudar a pensar em como sobreviver em tempos difíceis”.
Sobre o filme
“Começamos este projeto pensando que estávamos recontando uma história do passado, mas percebemos que também era um reflexo do nosso presente”, disse o diretor Walter Salles à Variety antes do lançamento do filme nos cinemas . “Temos que nos lembrar do que aconteceu. O cinema pode ser um instrumento poderoso para lutar contra essas forças — para nos ajudar a evitar o esquecimento. Um país sem memória é um país sem futuro.”
“Um país sem memória é um país sem futuro.”
Fernanda Torres
Flávio Matos
É diretor, ator, roteirista e produtor de cinema.