A árvore que ilustra este artigo é uma Algaroba (Prosopis juliflora) e fica em uma das cidades do interior nordestino. Creio que seja remanescente de tantas outras que foram plantadas nas décadas de 50 ou 60, quando o plantio desta espécie arbórea era bem popular em algumas cidades do Nordeste.
A arborização urbana, assim como cerveja, também segue a onda da moda. Na altura das décadas de 40 e 50 a moda nas cidades do sertão era plantar a “Figueira Lacerdinha” (Ficus microcarpa) na frente de casa, pela grande área sombreada que oferecia, mas que, em troca, quebrava sua calçada, quando não, a própria casa. Depois vieram as Algarobas nas praças e calçadas. Estas, por terem raízes superficiais, caíam com facilidade quando dos vendavais. Eu mesmo presenciei antigas algarobas caídas sobre automóveis em Cajazeiras. Então chegaram os pés de Castanholas (Terminalia catappa), também conhecida como “sete copas”, que dominavam a paisagem urbana em finais dos anos 70 e início dos 80, e cujo fruto era disputado pela meninada. Em Campina Grande há uma rua com o nome de Rua das Castanholas devido à grande quantidade dessas árvores naquele logradouro.
Mas como falei, é uma onda, uma moda. Assim, chegou a vez de outro Ficus “quebra calçada” (Ficus benjamins) em substituição às belas Castanholas. Essa espécie de Ficus é uma “peste”. Suas raízes vão à procura de umidade até embaixo do seu banheiro, depois de ter quebrado tua calçada, claro. Mas já saiu de moda. Agora surfamos a onda do Neen (Azadirachta indica) que oferece muita sombra e tem a boa fama de afastar os pernilongos (um repelente natural, dizem), mas afasta também os beija-flores e outros pássaros (uma pena não afastar os pardais). O Neen hoje é visto, inclusive, em grande quantidade na zona rural, tal foi sua adaptação aos biomas do Cerrado e da Caatinga. Até que apareçam donos de viveiros a importarem e indicarem uma nova espécie de árvore exótica, o Neen vai dominando vastos cenários no interior do país. Outro detalhe é que nenhuma das espécies citadas dão flores (ou os fazem de forma muito discreta, não sendo suficiente para colorir as ruas como ocorre com outras árvores). Abro aqui um parêntesis pra falar do Jambeiro (Syzygium malaccense), cuja fruta avermelhada, o jambo, era apreciada pela gurizada que adorava escalar essa planta. Era muito comum em João Pessoa e em cidades de clima mais úmido. É originário do Sudeste Asiático e se adaptou bem às áreas mais úmidas do Brasil; já nas cidades sertanejas sua presença é rara. Aqui cabe uma pergunta: Por que não plantarmos Ipês, Aroeiras e outras árvores encontradas no nosso bioma? Os Ipês, inclusive, têm sub espécies com flores de cores diferentes: brancas, roxas, amarelas e lilás, que dão um colorido especial a qualquer cidade que o adota em suas praças e avenidas, como é o caso de Maringá, no Paraná.
Ainda que o plantio de qualquer espécie de árvore seja importante como estabilizador de temperatura nas ruas pavimentadas das cidades, menos de 7% das áreas urbanas do país tem cobertura florestal. Mais lamentável ainda é que, mesmo surfando a onda da moda, os bairros populares da maioria das cidades são desprovidos de arborização desde o seu projeto. Um exemplo é o bairro de Mangabeira em Joao Pessoa, projetado para abrigar 50 mil pessoas (hoje tem o dobro) e em seu projeto não se pensou em áreas verdes ou em avenidas com canteiros centrais que dessem lugar ao plantio de árvores. Mas não é só Mangabeira. Quase todos os bairros praianos da capital paraibana são pobres em arborização – como se as praias, por si só, bastassem, o que é um equívoco. No caso das praias, a especulação imobiliária, quando do loteamento dos bairros, explica a pouca existência de áreas verdes. Já nos bairros populares a causa tem a ver com o custo de manutenção de parques e avenidas arborizadas que conferissem mais qualidade de vida para a população, mas cujo custo certamente recairia sobre o IPTU.
Dito isto, vemos que o verde que deu fama à João Pessoa é muito mal distribuído e não se traduz em qualidade de vida para os pessoenses; continua sendo o mesmo verde (cada vez mais reduzido) da Mata do Buraquinho e das áreas centrais de uma cidade quatrocentona que não existe mais e de cuja descaracterização geoespacial já falei aqui antes. A moda agora na metrópole paraibana é o aço e o concreto.
Dermival Moreira
É bancário aposentado, com Licenciatura em Geografia na UFPE e é autor de “Identidade e Realidade – artigos e crônicas”.