Podemos dizer que nossa Democracia é Jovem. Se iniciou com a República no final do século XIX, mas de forma “parcial”, onde uma pequena fatia da sociedade votava. Foi interrompida várias vezes durante o século XX; por último, em 1964, quando os Militares destituíram o Presidente João Goulart e assumiram o comando do país ficando no poder por 21 anos. A Democracia custa caro e não é perfeita, mas assegura o funcionamento das Instituições garantidores de direitos e liberdades individuais dos cidadãos, além das obrigações, claro. Permite ainda liberdade de imprensa e de expressão a todos. Pelo menos deveria ser assim.
Entre 1985 – quando a Presidência da República volta para as mãos dos civis – e 2015, foram 35 anos consecutivos em que o Estado Democrático de Direito no Brasil exerceu seu papel como estabilizador da Ordem, sem que a sua credibilidade e legitimidade fossem ameaçadas. Mas, uma década atrás, vieram à tona os escândalos de corrupção envolvendo estatais, políticos e empresários, que renderiam dividendos políticos à extrema direita. A espetacularização midiática da apuração dos fatos, explorada por um juiz e um procurador vaidosos, ganha as manchetes e as animosidades, força, alimentadas pelo ódio e pelo maniqueísmo.
A corrupção existiu e era quase institucionalizada, como mostrou a operação Lava-Jato e isso ficou claro durante anos de apuração e delações premiadas de alguns envolvidos. O resultado é que nunca se viu tanta gente graúda indo parar atrás das grades nesse país. Mas nunca, também nesse país, a corrupção e sua impunidade, foi tão bem explorada por tantos outros corruptos; o estopim para o que se seguiria estava aceso. A partir de então, a cada saída de um condenado da cadeia, aumentavam os ataques à Democracia e suas Instituições. Era a desculpa que a extrema direita e os saudosistas do Regime Militar queriam para articular um golpe de estado e até tramar o assassinato de autoridades.
Os discursos de ódio ganharam força e os debates eram nivelados por baixo. Ambiente perfeito para inflar civis e militares contra o Estado de Direito. Na organização criminosa articuladora do golpe havia de autoridades políticas a agricultores fanáticos; de donos de frotas de caminhões a incautos “Maria vai com as outras”; de gente envolvida com o jogo do bicho a milicianos. O auge da paspalhice ocorreria no dia 08 de janeiro de 2023 com a invasão e depredação das sedes dos 3 Poderes em Brasília. Um golpe de estado estava em curso no Brasil e por pouco não foi concretizado; que os cabeças dessa estupidez sejam identificados e punidos. A Democracia não é perfeita, mas atentar contra ela nunca foi solução em nenhum lugar do mundo. Anistia aos golpistas, NÃO!
Dermival Moreira
É bancário aposentado, com Licenciatura em Geografia na UFPE e é autor de “Identidade e Realidade – artigos e crônicas”.