Foto: MOHAMMED ABED / AFP

Para entender os conflitos entre Israel e o Mundo Árabe é preciso voltar quase 2 mil anos no tempo, quando os judeus foram expulsos da Palestina, perseguidos pelos representantes do Império Romano no Oriente Médio. Para eles, esse pequeno território árido, onde teria vivido Jesus Cristo, seria a “terra prometida” e era para onde muitas gerações de judeus exilados sonhavam voltar um dia.

Séculos depois, ao fim do Império Romano do Oriente seguiu-se o Império Otomano, sob cujo comando os “filhos de Davi” continuariam banidos e impedidos de retornarem à Palestina. Mais tarde, após a Primeira Guerra Mundial, vencida pelas potências ocidentais, chega ao fim também o domínio turco-otomano na Península Arábica, que fica sob “mandatos” da Grã Bretanha e da França até que os árabes se organizassem em estados-nações. Os judeus, espalhados por dezenas de países no norte da África e Leste Europeu, agora não tinham mais barreiras e começaram a migrar sonhando estabelecer uma nação judaica na região da Palestina. Ironicamente, a reocupação inicial da Palestina por judeus teve a contribuição de latifundiários palestinos que moravam no Líbano e na Síria. Estes venderam aos jovens sionistas de esquerda quase 6% das terras cultiváveis daquele território e iniciam-se os assentamentos judaicos no Oriente Médio.

Para vencer a Primeira Guerra Mundial contra os turcos e alemães, Inglaterra e França tiveram a ajuda dos árabes a quem prometeram autonomia em toda a Península Arábica tão logo a guerra acabasse. Aos judeus também foi prometido um lar nacional judaico na Palestina em troca do apoio americano na guerra. Deu certo. Os alemães são derrotados e os árabes ganham suas nações, mas quando perceberam que a presença cada vez maior de judeus nas terras palestinas poderia dar origem a um estado sionista, viram que tinham feito um péssimo negócio em receber os primeiros judeus e passaram a vê-los como inimigos.

Os árabes exigem que a Inglaterra ponha fim às migrações de judeus para a Palestina e sugerem a formação de um estado com maioria pró-árabe naquele território. Vem a Segunda Guerra Mundial sem que a situação fosse resolvida e só após a guerra, com a criação da ONU, é proposta a divisão do território, não aceita pelos árabes. Os judeus, por sua vez, aceitaram a divisão pois, por menor que fosse, depois de 2 mil anos poderiam ter um estado pra chamar de seu. Ainda teriam o apoio de americanos e soviéticos na colonização e defesa, interessados que estavam essas nações em enfraquecer a influência britânica e turca na região. Os árabes não aceitam a partilha por não considerarem justo ceder parte de um território onde eles eram maioria e que consideravam  seu, – os judeus haviam passado 2 mil anos ausentes da Palestina, período em que, mesmo sem autonomia, os árabes ocuparam. Dois dias após o anúncio da oficialização do Estado Judaico de Israel pela ONU, a aviação egípcia inicia os bombardeios em Tel Aviv. Era o início de décadas de conflitos.

As propostas de divisão de estados no Oriente Médio, após o fim do “mandato” das potências ocidentais, em nenhum momento consideraram a possibilidade de criação de estados laicos tal era a identidade daqueles povos vinculada ao aspecto religioso, onde o estado e religião se confundem. A volta dos judeus para a Palestina também foi carregada de sincretismo bíblico e a formação do seu estado totalmente ligada ao judaísmo. Lembrando que Jerusalém, cidade sagrada para árabes e israelenses fica na Palestina, com a intolerância religiosa sempre no cerne da maioria dos conflitos do Oriente Médio, o que dificulta um acordo de paz. E, na ausência de uma autoridade palestina legítima, atores não estatais extremistas surgiam, financiados por algumas nações islâmicas. Esses grupos prestavam assistência humanitária aos palestinos, incluindo treinamento militar aos jovens e técnicas para atentados suicidas.

Do início da segunda metade do século XX até os dias atuais seguiu-se muitos confrontos em que grupos terroristas se alternavam nos ataques a Israel, todos assumidos em nome da causa palestina. Muitos desses grupos se instalaram no Líbano – a exemplo do Heizbollah – cuja capital, Beirute, era constantemente bombardeada pela aviação israelense. Como resultado, o Líbano se viu mergulhado numa guerra civil nos anos 80, cuja compreensão desafiava os especialistas no assunto, tal era a configuração e os interesses de grupos locais envolvidos. Mas, melhor armado e organizado, Israel resistia a todos os conflitos que enfrentava. Aos poucos, e por interesses comerciais com o Ocidente, muitos países árabes foram abandonando a causa palestina, aceitando a existência do estado de Israel. Aos palestinos restou lutarem sozinhos com pedras ou ficar reféns das atividades nefastas dos grupos extremistas que tinham como política e meta acabar com Israel.

Em 1964 é criada a OLP (Organização para a Libertação da Palestina) e esta passaria a ser o canal oficial de diálogo dos palestinos reconhecido pela ONU, tendo Yasser Arafat à frente. Em um ambiente radicalizado, o papel dos negociadores não era fácil. Arafat por muito tempo foi visto como terrorista por Israel que não reconhecia sua autoridade como negociador da paz. Os extremistas árabes, por sua vez, não confiavam em Arafat à medida que este se aproximava do Ocidente buscando um acordo de paz, chegando a ser ameaçado de morte, sobrevivendo, inclusive, a um atentado. Mesma sorte, anos depois, não teria o premier israelense, Itzhak Rabin, assassinado por um jovem extremista de direita judeu 2 anos após Rabin ter iniciado um acordo de paz com a OLP de Arafat em 1993.

Aos períodos de confrontos seguiam-se falsas tréguas, onde reinavam o ressentimento e a desconfiança, para em seguida recrudescer na forma de atentados à bomba em mesquitas, sinagogas ou lançamentos de foguetes contra Israel, que respondia sempre com grande poder de fogo e de forma desproporcional, sofrendo críticas da comunidade internacional, como ora ocorre. Aos grupos extremistas jamais interessou a paz. A guerra é quem justifica sua existência e os atentados contra os israelenses uma forma de autoafirmação e respaldo junto a quem os banca. E no fogo cruzado, como sempre, os palestinos.

Nas últimas décadas o grupo extremista Hamas, criado por dissidentes islâmicos, tem se destacado nas ofensivas contra os judeus. É financiado pelo que de pior há em termos de Oriente Médio, o Irã. O Hamas prega o fim do estado de Israel e jamais aceitou os representantes da Autoridade Palestina como negociadores da paz, recusando qualquer acordo. A causa palestina para eles é apenas um pretexto a explicar seus atos terroristas. Hoje, milhares de palestinos já vivem em Israel onde  chegaram a ocupar cargos públicos e querem a paz. Essa guerra é apenas do Hamas e está na lógica do antissemitismo e contra a cultura ocidental. No entanto, grupos assim ainda encontram apoio em alguns setores da política internacional que chegam a relativizar ações terroristas contra tudo aquilo que represente aliança aos Estados Unidos. Nem Israel nem seus aliados aceitam o Hamas como legítimo representante da causa palestina – um grupo extremista que busca protagonismo e faz sua política iniciando uma guerra insensata que, de antemão, sabe não poder vencer. A beligerância do Hamas é algo deliberado, necessário e coerente à sua gênese, qual seja, manter a chama do belicismo acesa, justificando sua existência a preço de sangue. Em nome dos palestinos, claro.