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Espero não falar nenhum absurdo quando digo que a infância e a juventude são, conjuntamente, o período mais importante para a formação do caráter do ser humano. Ao passo em que a capacidade média do cérebro humano em raciocinar e desenvolver novos conhecimentos é enormemente aprimorada, somos educados e direcionados pelos nossos responsáveis (pais, avós, etc) a seguirmos um código de ética e conduta sob a qual se constrói nossa personalidade.

É verdadeiramente o momento ímpar de nossa vida onde somos igualmente valorizados e capacitados por nossa própria biologia a nos tornarmos membros contribuintes da sociedade.

O potencial é evidente. A criança se encontra numa posição única para crescer e se desenvolver segundo a demanda de seus tutores, que por sua vez salvaguardam sua integridade física e mental.

Mas, ao admirar essa preciosidade, será que não ignoramos o aspecto de fragilidade que os anos iniciais do indivíduo não nos oferecem?

Não é sobre ideologia ou sobre conjunto de valores, mas a reflexão que busco fazer é quão inferiorizada é a infância ante os outras fases da vida.

Adultos, na ânsia por terem um “pequeno adulto” formado em caráter e conhecimentos, muitas vezes caem na armadilha de menosprezar o processo natural da infância.

Brincadeiras, por mais inocentes que sejam, são
essenciais no desenvolvimento de habilidades e competências próprias da pessoa, e não impostas pela mundo exterior.

“Viver” a infância é algo que ocorre cada vez menos dentre os jovens, haja vista os desafios que a tecnologia e as redes sociais, bem como seus gatilhos de engajamento, acarretam. A arma mais “prática contra o choro de uma criança hoje é um celular, e não a atenção plena de seus responsáveis.

O próprio sistema educacional brasileiro, quando tratando da juventude e da formação profissionalizante, se fez promotor de reformas no ensino medio que seguem uma tendência de antecipar a maturação o máximo possível, e já exige dos estudantes que escolham a área que pretendem passar boa parte da vida atuando profissionalmente.

É quase como se todos na sociedade, mesmo que involuntariamente, passarem a ser mais “frios” com relação a infância e as experiências que dela decorrem.

Entendo que não é um problema por si só, mas chega a ser um convite à reflexão: não estamos reduzindo a infância e a adolescência a um período inconveniente, no qual os adultos devem “suportar” o sustento dos mais jovens?

Mesmo que já houvesse
no passado um certo tipo de adultização, é indiscutível que a modernidade trouxe um novo momento exponencial para esse problema.

Quando levamos em conta as tecnologias atuais e os meios de disseminação de informação eficientes, somados a um conjunto maduro de valores que desenvolvemos através de séculos de convívio social, não deveríamos ser capazes de fazer melhor do que isso?

Digo, é tão bom assim ser adulto?

Ou apenas não estamos sabendo valorizar a infância, a juventude, e toda a inocência e preciosidade que dela decorre?