Segundo o doutor em psicologia clínica, Contardo Calligaris, a adolescência é criação da modernidade que retardou formalmente a emancipação do homem e desse modo acabou instituindo uma das formações culturais mais poderosas de nossa época. Esse processo não está de forma nenhuma desvinculado da cultura capitalista que, ao tempo que “prepara” o jovem para o mercado de trabalho, fatura bilhões de dólares anualmente em produtos destinados ao público juvenil. Ou seja, contraditoriamente, sob a ótica capitalista, os mesmos jovens incapazes para a vida civil, estão aptos para o consumo, visto como um grande aliado no processo de autoafirmação. Assim, a adolescência é nada mais que uma moratória instituída ao “jovem adulto” pela sociedade moderna. Na verdade, essa prática acaba por “privar” (pelo menos formalmente) o jovem de ações para as quais, biológica e fisicamente ele já está apto, bem como algumas “obrigações” e o trabalho, por exemplo, e ainda protegê-lo das obrigações civis. Mas com relação ao consumidor potencial, não só o consideram apto, como o estimulam a consumir.
Essa consideração e avaliação que a sociedade faz do “adolescente” cria muitos conflitos em família que, dependendo da cultura à qual estão inseridos, e do grau de impetuosidade e influências externas aos quais estão expostos, vai delinear seu comportamento pelos próximos anos. É a fase da rebeldia que, em muitos casos, tem desfecho trágico. As atitudes comportamentais que daí decorrem, são formas dos jovens burlarem essa moratória, inclusive assumindo posturas que muitas vezes se tornam marcas e ícones de expressão duradouros e formas de comportamentos perenes.
A adolescência pode ser burlada quando o jovem, buscando sua autoafirmação, procura mudar sua imagem, normalmente se inspirando em personagens ícones da “contracultura” e rebeldia. Nesse momento sua preocupação é com a imagem e a postura, onde o objetivo maior é se identificar e ser aceito por um grupo afim. Mas para rebelar-se e bancar o custo de seu novo comportamento, muitas vezes o adolescente, carente de apoio moral e psicológico no meio familiar, apela para a delinquência (pequenos furtos), transgredindo regras e convenções do mundo dos adultos. Nos casos de maior rompimento com a família, o caminho das drogas e do álcool acaba por ser uma válvula de escape.
Sendo um produto da cultura moderna e alvo da propaganda consumista, o potencial de consumo que essa faixa etária representa para o mercado não pode ser desconsiderado. Pesquisas apontam que entre 20 e 30% do faturamento dos shoppings Centers diz respeito à venda de produtos destinados ao público adolescente. O problema surge quando, por razões financeiras, culturais ou religiosas, a busca do jovem por sua autoafirmação se traduz em conflitos que extrapolam a esfera familiar. Nesse momento é a vez da sociedade e suas instituições agirem, custeando e assumindo a reeducação e reinserção social do “monstro” que ela mesma criou.
Dermival Moreira
É bancário aposentado, com Licenciatura em Geografia na UFPE e é autor de “Identidade e Realidade – artigos e crônicas”.