No que se diz respeito à poesia paraibana de autoria feminina hoje, observamos um forte e resistente cenário literário forjado pelas próprias escritoras, que realizam inúmeras atividades e estratégias de circulação e reconhecimento das suas produções; atividades e estratégias estas que têm se fortalecido nos últimos anos com a criação de coletivos e eventos, como o Mulherio das Letras, clubes de leituras, como o Leia Mulheres JP, saraus voltados para a autoria feminina, como o Selváticas, editoras independentes interessadas em publicar, principalmente, mulheres, cis ou trans, como a Triluna, batalhas de poesia marginal como o Slam das Minas PB, entre outras movimentações que as poetas promovem em colaboração mútua e ganham ainda mais força em espaços como os das redes sociais, onde costumam compartilhar não só os seus textos, mas também os das outras, assim contribuindo com a visibilidade e recepção deles. Essa espécie de ativismo literário é tão intensa que, mesmo durante a pandemia mundial, as poetas encontraram diversos meios de se manterem presentes, promovendo, por exemplo, lives e saraus poéticos online.

Considerando, pois, essa parceria poética, identificamos não apenas um estreito diálogo em suas atuações na cena cultural, mas também no corpo dos seus poemas. Isso ocorre frequentemente a partir de dedicatórias ou da citação de versos da outra poeta selecionada para o diálogo lírico, como vemos no trecho de “Patchwork”, de Débora Gil Pantaleão (2018, p.38): “[…]se morder a polpa da palavra /é violentar o verbo/se acordei antes das cinco/e estou triste como a imagem/ de um cão morto à estrada[…]. Nele, constatamos um diálogo feito tecendo versos das poetas paraibanas Anna Apolinário, com partes do poema “Selvática”, e da poeta Moama Marques, com uma passagem do poema “Exercício”, mas não só, já que todo o poema de Pantaleão é construído utilizando as vozes líricas de diversas autoras canônicas e das contemporâneas conterrâneas, formando um uníssono de vozes líricas em um só corpo-estrofe. Outro exemplo interessante encontramos em Anna Apolinário e Aline Cardoso, que também registram em seus poemas dedicatórias uma para a outra, celebrando a amizade que têm para além da palavra escrita, como vemos em “Lírio-da-lua-nova”, de Cardoso (2019, p.51), com dedicatória à Apolinário. Em seus versos, encontramos diversos símbolos que remetem a aspectos físicos e líricos da homenageada, expondo a intimidade que a voz poética tem com a poeta citada: “Tua rubra juba/flui e brilha/ao teu próprio sol/guardiã de eternidades”.

Anna Apolinário, Débora Gil Pantaleão e Aline Cardoso (Arquivo pessoal)

A esses dois exemplos que selecionamos se somam amuitos outros, o que mostra como a parceria no ativismo literário em prol da visibilidade e do incentivo da autoria feminina do estado é refletida na escrita das poetas, fortalecendo ainda mais a importante rede de diálogo entre elas.

 

 

 

* Isabela Cristina Gomes Ribeiro da Silva é Licenciada em Letras – Língua Portuguesa pela Universidade Federal da Paraíba (2023) e mestranda em Letras pela mesma instituição. Em 2018, participou do grupo de estudos “Análise Crítica do Discurso – Formações ideológicas e de gênero”, tendo atuado, também, nos projetos de extensão “A filologia em sala de aula: o conhecimento pelos manuscritos” e “Literatura(s) em debate”. Entre 2019 e 2021, foi bolsista Cnpq no Programa de Iniciação Científica (IC). Atualmente, participa do grupo de pesquisa Laboratório de Estudos de Poesia (LEP) com estudos direcionados à poesia contemporânea de autoria feminina na Paraíba.