“Onde Está Wally” é um clássico jogo do final da década de 80 que tem um premissa incrivelmente simples e atrativa: encontrar, dentro de um contexto visualmente poluído, o personagem principal (Wally). Foi idealizado como uma forma de introduzir o público infanto-juvenil em uma brincadeira educativa que ensinava um pouco sobre os cenários em que os personagens se encontravam, viajando o mundo inteiro.

Ao longo do tempo, a própria evolução da cultura pop o fez se popularizar como um “desafio” de procurar algo aparentemente escondido em plena vista, facilmente reconhecido a partir de uma analisa cautelosa, algo que até uma criança seria capaz de identificar.

Diante do contexto acima, pergunto: onde está o Centro na política do Brasil?

Não, não falo do “Centrão”, conhecido agrupamento de parlamentares que facilmente aderem à Esquerda ou à Direita, e que muitas vezes é envolvido em escândalos de corrupção. Arrisco dizer, inclusive, que o “Centrão” não tem ideologia, ou melhor, sua ideologia é o próprio “Poder”.

Pergunto acerca do “Centro Ideológico”, dos parlamentares e líderes por todo o país que se identifiquem como “Centristas”, que rejeitem tanto a esquerda como a direita como alternativa política nacional. Porque vemos uma polarização tão grande nas redes e na mídia de modo geral. Onde estão?

Pergunto, sim, mas não lhe deixo sem resposta.

O Instituto DataSenado se propôs a conduzir uma pesquisa de opinião que ouviu 21.808 brasileiros em junho de 2024 para saberem como eles se identificam politicamente, ajudando a sanar as dúvidas sobre o tipo de ideologia defendida pela maioria do povo brasileiro.

Temos um panorama interessante: enquanto 29% dos brasileiros se dizem “de Direita” e 15% se dizem “de Esquerda”, apenas 11% dos brasileiros se identificam como “ao Centro do Espectro Político”.

Em bom português: a “Terceira Via”, tanto defendida por analistas, especialistas ou lideranças políticas simplesmente não é real. É uma narrativa que termina por iludir o eleitor ou bagunçar o tabuleiro eleitoral, mas que não pode virar realidade.

Talvez, acreditando na coerência deles, o façam com a melhor das intenções, de apaziguar as relações tensas dentro da sociedade e melhorar o convívio, mas confiar no Centro para encabeçar um projeto político a nível nacional é, pragmaticamente, inviável.

Mas sim, diante desses dados você deve ter feito a mesma matemática que eu:

29% + 15% + 11% = 55%

E o restante do povo brasileiro?

Esse é o dado mais preocupante da pesquisa. 40% dos brasileiros se dizem não se identificar nem com o Centro, nem com a Esquerda, nem com a Direita, e mais de 5% simplesmente não se sentiram confortáveis para responder.

Esses 40% são o que chamamos de “Apolíticos”, pessoas que rejeitam o conhecimento e o próprio direito de opinar em assuntos políticos de maneira recorrente. É um sentimento que nasce da desesperança ou da desilusão de que suas vidas podem mudar a partir de um resultado eleitoral.

O problema? Desconhecer ou rejeitar a política não impede (e nem deveria) a participação no processo eleitoral. Candidatos “outsiders” ou “antissistema” ganham força ao passo em que suas prometem destruir completamente um sistema, mesmo que para isso tenham na democracia uma vítima colateral.

No primeiro turno das eleições de 2024, 78,29% dos eleitores aptos a votar o fizeram (Fonte: Senado Federal), o que é ótimo dentro da ótica de incentivo à democracia, mas preocupante diante da ótica de ausência de educação política no Brasil.

A rejeição completa ao processo de convencimento ao voto, o desconhecimento das propostas ou até mesmo do histórico dos candidatos que elegemos tem modificado (para pior) a própria regência de nossa sociedade. Sem esclarecimento acerca do processo político, opinamos não por nós, mas pela influência de terceiros.

Não faço aqui um posicionamento, de que a ideologia “X” é melhor que a ideologia “Y” por exemplo, mas uma crítica: sem uma atenção especial à educação, em especial à educação política por parte dos governantes, é pouco produtivo termos essa discussão.

E que político faria um investimento cujos resultados só virão depois que ele estiver fora da política, por vezes décadas no futuro, como é o caso da educação?

O título deste artigo é levemente enganador, caro (a) leitor(a), peço-lhe perdão. Não é sobre encontrarmos um “Centro” ou algum caminho a seguir, mas sim de perguntar:

Aonde vamos parar?