Nos últimos 30 dias apaguei o app do Instagram. Não desativei minha conta porque não era a conta em si que estava sendo um peso pra mim, mas o uso excessivo do aplicativo, então o apaguei. Aconteceu algum problema pontual que me motivou a apagar? Não. Não foi um problema, foram coisas da vida que me demandaram maior tempo, concentração na vida real e a vida on-line perdeu o espaço temporariamente, daí resolvi dar um tempo. Não estou dizendo com isso que rede social é coisa de gente desocupada porque já desfiz essa crença na minha cabeça há tempos (ou achava que).

Nesse mês ausente, conheci uma mulher, professora doutora universitária extremamente culta, e aí fui perguntar qual o Instagram dela porque já queria ser amiga. Aí ela disse que não tinha Instagram e a primeira coisa que pensei foi “deve ser por isso que é tão culta”. Que pensamento bobo e errôneo. O Instagram é uma plataforma de interação e ela pode ser tão culta quanto a gente fizer ela ser, não é sobre a ferramenta, é sobre quem a opera. Espero que cada vez mais pessoas inteligentes e cultas pensem assim sobre as redes sociais e que a gente desfaça essa imagem de que a rede social é uma besteira, porque interagir é bom, é saudável, é inteligente. Eu não sei por qual motivo essa professora não tem Instagram, mas espero que um dia tenha, pois quero interagir com ela nas redes com certeza!

Redes sociais são um excelente espaço de interação para estudar e aprender conteúdos úteis. Conheço pessoas extremamente inteligentes e ocupadas que possuem redes maravilhosas cheias de conteúdos legais. No meu caso, eu estava precisando de um tempo porque não estava conseguindo lidar com as demandas da vida real e da rede social ao mesmo tempo e isso foi uma situação sobre mim, não quer dizer que quem está nas redes sociais sempre é porque é menos ocupado que eu, ou que eu sou mais ocupada que os outros, nada disso. Talvez eu estivesse precisando aprender melhor a administrar meu tempo, já que me propus a ter um ambiente de interação on-line, como o Instagram, ou só precisasse de um tempo mesmo e não tenha que dar muitas explicações. Mas achei legal compartilhar as reflexões que tive ao sumir e ao voltar para o Insta.

Com a pausa no uso do Instagram, reduzi o uso do celular? Não, aumentei. Passei a usar o YouTube muito mais. É um tipo de bombardeio de informações on-line que “gosto” mais, porque tenho mais controle sobre o que vou ver (em relação ao feed do Instagram) e não vejo notícias de ninguém conhecido da vida real, a maioria dos canais que acompanho são de pessoas que produzem conteúdos que agregam algo de útil na minha vida então, apesar de não ser exatamente saudável, porque ainda me mantém muito tempo conectada, é mais controlável. Será que no futuro todo mundo vai ter canal do YT também e aí o feed do shorts vai ser cheio de informações sobre pessoas do convívio do dia a dia, que não usam a rede social profissionalmente, e não só de grandes criadores de conteúdo famosos, ou será que o YT é essa rede para quem usa a plataforma profissionalmente apenas?

Instagram é uma rede de interação pessoa-pessoa e pessoa-vendedores, ou seja, pessoas que não usam a rede profissionalmente também interagem entre si, não é só sobre vendas e compras. O YT é só entre pessoas e vendedores. Mesmo que a sutileza seja tão grande que você nem perceba, no YT toda a interação é sobre vendas e compras. Então, apesar da coisa tóxica da exposição exagerada da vida particular das pessoas no Instagram e o bombardeio sem controle de fotos e vídeos, o Instagram seria “menos abusivo” em relação ao YT pq tem uma função que vai além das vendas, que é a interação entre pessoas? Apesar de ser mais controlável em termos de conteúdo que você consome, o YT é pior por ser exclusivamente uma loja? Qual o melhor: um ambiente pensado para vendas e feito por vendedores (de conteúdo, de coisas) ou um ambiente de vendas camuflado em rede social como o Instagram? As redes sociais são ruins para a nossa cabeça? Eu acho que não, falta aprender a usar melhor, reconhecer os problemas que as redes podem nos trazer, identificar, aceitar e aprender a usar ao nosso favor focando nas coisas boas.

Estava viciada em Instagram? Não. Não me senti mal sem o Instagram, não era uma necessidade, era algo que eu gostava (e ainda gosto), que me permite interagir com as pessoas. Engraçado ver que o mundo real não parece real sem o Instagram, qualquer coisa que eu precisei pesquisar enquanto estava sem Insta se tornou uma tarefa muito mais difícil, principalmente estabelecimentos. Se um estabelecimento não tem Insta isso já me deixa desconfiada sobre a confiabilidade do produto. Se tem poucos seguidores parece fake, se tem muitos, tem que avaliar se parecem seguidores comprados. Como avaliar um estabelecimento sem Instagram? Usei muito o Google e o Google Maps, mas não é a mesma coisa. Fora que toda loja coloca o contato de WhatsApp na bio do Instagram e geralmente no Google só tem um contato de telefone fixo. Telefone fixo não é da minha época, não sei pra que serve (mentira haha, mas vcs entenderam).

A interação com as pessoas que o Instagram proporciona é igualmente nociva e especial, depende de como é feita, ainda bem que na minha página todo mundo é amorzinho demais (vão lá ver que tô falando a verdade @priscilawerton). Tenho Twitter e Facebook mas não uso, não gosto, não é minha galera. Me senti ansiosa sobre voltar porque parecia que o Instagram não ia me receber de volta, já que sumi sem dar explicações haha. Ficava recebendo e-mails com indiretas da plataforma para me fazer sentir vontade de voltar e voltei.

Voltar me fez sentir o peso do padrão de beleza, mas isso, nesse caso, foi bom, porque dei uma relaxada sobre os cuidados com a saúde, parei a atividade física, saí da academia, engordei… ver os padrões de beleza do Instagram, até um certo ponto, me fez bem porque me deu vontade de voltar a fazer atividade física e isso, independente do motivo (no caso um motivo ruim: uma alienação inconsciente do padrão de beleza), é uma coisa boa.

Me afastou das pessoas? Não. Quem gosta de mim de verdade estava no mesmo lugar do Insta me esperando e isso foi muito legal de sentir. Nem sempre a gente quer interagir com pessoas e isso é normal, é bom, precisamos saber a hora em que a interação é excessiva e olhar um pouco mais para nós mesmos respeitando nossos limites. Foi muito boa a sensação de que as pessoas sentiram minha falta. Recebi muitas mensagens de seguidores dizendo que meus posts são importantes na internet, que perceberam minha ausência.

Muita gente perguntou se eu estava bem. Isso foi interessante porque deixa implícita uma ideia de que estar no Instagram significa que a pessoa está bem, portanto não estar lá pode significar que a pessoa está mal, só que é mais o contrário disso: estar no Instagram constantemente pode significar exatamente que você não está bem, que a sua vida pessoal está um caos, que você está com cobranças excessivas sobre estética e padrões de beleza, que você está com problemas de saúde mental e os está negligenciando procurando preencher um vazio em você com a vida da internet, que pode ser muito falsa e superficial.  A vida mentirosa que pode ser mostrada nas redes sociais é tão problemática que talvez não estar no Instagram fosse sinal de saúde mais do que estar. Mas eu entendi que essas pessoas se importam comigo e fiquei muito feliz pela preocupação.

Cada dia mais acho que a gente precisa fazer um uso consciente das redes sociais entendendo o papel que cada rede tem na nossa vida, a função, se essa função é boa ou ruim, quais sensações que essa rede causa, se é saudável, se agrega coisas boas nas nossas vidas. A rede social afeta minha saúde mental? Como? Até que ponto? Acho que ainda não temos respostas individuais e claras para essas perguntas porque sequer estamos pensando sobre, estamos sendo apenas tangidos pelos boiadeiros bilionários das grandes redes e a gente já viu em uma outra história que esse negócio de ser gado não dá certo.

Espero que no futuro tenhamos maior regulamentação das redes sociais com transparência no funcionamento dos algoritmos, responsabilização das plataformas, redução do poder que as redes têm sobre nossas mentes, regulamentação da disseminação de informações, principalmente informações privadas que são entregues a empresas que visam lucrar com isso (os cookies) e responsabilização sobre a disseminação de conteúdos falsos, que colocam em risco nossa democracia, e maior eficiência na proteção de crianças e adolescentes, além do controle de incitações à violência nas redes sociais. Que o Projeto de Lei (PL) 2630/2020, que “institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet”  seja muito bem vindo como o marco civil de melhor uso das redes sociais para que a gente tenha o controle das redes e não elas sobre nós.

Muito feliz em voltar! Que tenhamos um uso cada dia mais consciente das redes sociais.

Me sigam no @priscilawerton e vamos pensar em um uso melhor das redes juntos.

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