O Vasco da Gama, um dos clubes mais tradicionais do futebol brasileiro, teve uma trajetória única e distinta ao alcançar a elite do futebol carioca. Diferente de Flamengo, Fluminense e Botafogo, o Vasco não nasceu na zona sul do Rio de Janeiro. Sua origem é enraizada em São Januário, Vila Isabel, Tijuca, Zona Portuária e Zona Norte, lugares que refletiam a diversidade e a luta de seus habitantes.
Quando criança, dentro de casa, era influenciada para torcer por dois times: Fluminense (o time do coração do meu irmão mais velho) e o Vasco da Gama (a paixão do meu pai). Claro que a influência de papai foi soberana. Portanto, desde criança pequena lá em Cajazeiras que me reconheço vascaína. Roberto Dinamite foi meu ídolo. Até hoje sei cantar o hino oficial desses dois times, mas é o Vascão (como diz meu cunhado Raiff) que é dono do meu coração.
Um dia desses, um amigo de infância, também colunista do Diário de Vanguarda, Dermival Moreira, comentou sobre a luta social que faz parte da história do time de São Januário. Foi daí que me deu vontade de dedicar um espaço aqui na coluna para falar sobre quanto me honra ser vascaína.
“Dessas minhas idas ao Rio, fui em São Januário lá em duas ocasiões. Conheço cariocas da gema que nunca pisaram em São Januário. É ‘contramão’… Pra eles da Zona Sul”, me disse Dermival.
Outro grande e querido amigo, Rômulo Halisson, vascaíno “doente”, recentemente me mandou o link de um hino emocionante que canta a história dos Camisas Negras que em 1923 conquistavam seu primeiro título carioca, ou seja, há mais de cem anos nascia uma luta contra preconceitos.
A história do Vasco é marcada por resistência e superação. No início do século XX, o clube enfrentou forte resistência e preconceito ao incluir jogadores negros e operários em seu time. Enquanto outros clubes elitistas da época mantinham uma postura excludente, o Vasco abriu suas portas para todos, independentemente de cor ou classe social.
Essa atitude corajosa e inclusiva se refletiu em momentos emblemáticos, como a construção do estádio de São Januário. Erguido com o esforço e a contribuição de seus próprios torcedores, São Januário tornou-se um símbolo de resistência e vitória, uma verdadeira fortaleza do povo.
Os versos do hino vascaíno a que me refiro ecoam essa história de luta e glória:
“Eu vou torcer
Aqui eu ergui meu templo para vencer
Eu já lutei por negros e operários
Te enfrentei, venci, fiz São Januário
Camisas Negras que guardo na memória
Glória, lutas, vitórias esta é minha história”
Ser vascaína é carregar consigo um legado de bravura e conquistas. É ter orgulho de um clube que sempre esteve à frente de seu tempo, que enfrentou o racismo e venceu. É sentir a grandiosidade do sentimento vascaíno, um amor que ergueu monumentos e que continua a inspirar gerações.
“Que honra ser
Saiba, eu sou vascaíno, muito prazer
Jamais terás a Cruz, este é meu batismo
Eu tive que lutar contra o teu racismo
Veja como é grande meu sentimento
E por amor ergui este monumento”
Essa é a essência do Vasco da Gama. Um clube que não apenas joga futebol, mas que representa a luta pela igualdade, a inclusão e o orgulho de suas origens. Ser vascaína é, acima de tudo, uma honra imensa.
p.s. ( na Paraíba meu time é o Trovão Azul do sertão, Atlético de Cajazeiras).
SobreTudo - Por Edileide Vilaça
Tem mestrado em Jornalismo, especialização em Linguística e graduada em Comunicação Social, todos pela UFPB. Acumula mais de 30 anos de experiência em assessorias parlamentares, produção cultural, em rádios e TVs da Paraíba. Idealizadora da ONG Casa Formosa(Baía Formosa/RN). Acadëmica de Direito. Editora do Diário de Vanguarda.