Quem é a mulher preta, de periferia, nascida em Campina Grande, filha de Dona Basta (uma mulher negra, trabalhadora doméstica e mãe solo), que acaba de ser eleita a vereadora mais votada nas eleições de 2024 para a Câmara Municipal de Campina Grande?

Cabelo black power, com uma rosa vermelha de lado, sorriso doce e um abraço que acolhe. Quando fala, é um soneto de ternura, sem perder a firmeza naquilo que acredita e defende.

Jô Oliveira estudou em escola pública e ingressou no curso de Serviço Social da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), onde se graduou e concluiu o mestrado na área. Sua trajetória tem origem nos movimentos estudantis e lutas sociais, que moldaram seu engajamento político ao longo dos anos.

Filiada ao PCdoB, tornou-se a primeira vereadora negra de Campina Grande, e sua trajetória reflete a busca por maior inclusão em uma cidade tradicionalmente conservadora. Seu desempenho nas urnas sinaliza uma crescente aceitação de candidatas que enfrentaram barreiras sociais e culturais para ingressar no cenário político. A reeleição como a vereadora mais votada e o crescimento significativo de sua votação, de 1.544 votos em 2016 para 5.178 votos em 2024, demonstram como sua candidatura se consolidou, ganhando apoio de eleitoras e eleitores que buscam pautas relacionadas à inclusão, igualdade social e defesa dos direitos das minorias. Esse aumento de votos também sugere que sua atuação no mandato anterior fortaleceu sua base de apoio.

A tentativa de se eleger deputada estadual em 2022, quando obteve 11.756 votos (5,47%), mesmo sem êxito, aponta para seu potencial de expansão política em nível estadual. Tudo tem seu tempo.

Pois bem, a composição da Câmara Municipal de Campina Grande, com 23 vereadores, reflete um aumento na representatividade feminina, que agora alcança 34,78%. Em 2020, sete mulheres foram eleitas, e esse número cresceu para oito.

A diversidade partidária entre as mulheres eleitas – União Brasil, Republicanos, MDB e PSB – sugere um leque de visões políticas, o que pode contribuir para a pluralidade de debates com um olhar mais feminino dentro de um espaço historicamente dominado por homens.  A reeleição de Jô Oliveira como a mais votada, o aumento da bancada feminina e a significativa renovação de 47,82% na Câmara Municipal de Campina Grande apontam para avanços na representatividade e diversidade política.

Confira a lista de vereadoras eleitas em Campina Grande (em negrito, as reeleitas):

Jô Oliveira (PC do B) – 5.178 votos (2,22%)
Carol Gomes (União Brasil) – 5.009 votos (2,15%)
Ivonete Ludgério (União Brasil) – 4.964 votos (2,13%)
Fabiana Gomes (União Brasil) – 4.524 votos (1,94%)
Valéria Aragão (Republicanos) – 3.865 votos (1,66%)
Pâmela Vital (MDB) – 3.852 votos (1,65%)
Aninha Cardoso (Republicanos) – 3.502 votos (1,50%)
Waléria Assunção (PSB) – 3.446 votos (1,48%)

Em tempo: na capital, a situação é diferente. Dos 29 eleitos, apenas duas são mulheres: Jailma Carvalho (PSB), com estrondosos 10.127 votos, e, mais uma vez, reeleita Eliza Virgínia (PP), com 6.146 votos. Pelo menos haverá minimamente um certo equilíbrio: de um lado, vem a novata Jailma, da base progressista e primeira mulher de comunidade na Câmara Municipal, para dar um contraponto às posições alinhadas com a extrema-direita, defendidas por Virgínia.
Vale lamentar que, apesar da excelente votação de 5.348 votos, à ex-deputada Estela Bezerra restou se conformar com a 1ª suplência na Federação Brasil da Esperança, composta pelos partidos PT, PCdoB e PV.